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A Minha Avozinha Rosinha

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Nos rigorosos dias do mês de Dezembro, aqueles mesmo próximos do Natal, o frio entrenha-se no ossos. No entanto, creio que nem esse frio húmido, nem o nevoeiro que cai, perto de anoitecer, faz parar qualquer criança. Também fui assim. Mais do que a lembrança de um nevoeiro cerrado, de um frio que tornava a minha cara vermelha e a ponta do nariz gelada, é a liberdade de andar pelos caminhos de que mais me lembro. E a aventura que era estar com a minha avozinha à procura de pinhas. Era, na maioria das vezes, uma procura que dava poucos frutos. Mas, ir com a minha avozinha andar e sempre a espiar a beira da estrada para ver se alguma pinha tinha caído ou irmos junto dos pinheiros à procura desse tesouro, alegrava o dia. E a minha avó sempre com o seu ar doce e o seu sorriso meigo lá ia, à procura também. Sempre muito atenta. A maior parte das vezes, a procura das pinhas servia para a lareira, para atiçar o lume. No entanto, lembro-me que houve uma vez em que vi pinhões e tive-os na minha ...

Inquietude Constante

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Gostava de te ver entrar por aquela porta. Não com o teu mesmo ar desconstraído, mas com a expressão de quem está preocupado.  Gostava de te ver entrar por aquela porta e de ficar surpreendida. Tão surpreendida que não teria quaisquer palavras que pudesse proferir. Que, finalmente, me fizesses sentir que eu valho alguma coisa... nem que fosse uma coisa mesmo pequenina. Bastar-me-ia. Gostava de te ver entrar por aquela porta e que me deixasses sem chão. Que me deixasses sem chão, como daquela vez.  Queria que me deixasses sem chão, que me deixasses suspensa sem saber o que fazer, perdida por te ver de novo à minha frente como tantas vezes imaginei. Queria que me deixasses sem chão, sentindo cada uma das tuas mãos na minha face, não me deixando cair, como se ficássemos os dois suspensos no ar, num qualquer estado etéreo onde a existência é mais do que fisíca. Queria que me deixasses sem chão para que com o teu simples gesto me mostrasses que se pode levitar, dançar e voar sem nu...

Ser ou Estar, Viver ou Sobreviver

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Dizem que o mundo é sempre feito de pares: vida e morte, amor e ódio, o bom e o mau, a alegria e a tristeza. Dizem mais: que o mundo é feito de pares e que cada um dos elementos desses pares só existe porque também existe o seu contraditório. Só há o bem, porque há o mal. Só há o ódio porque existe o amor. Só há a vida porque existe a morte. Só há alegria porque existe a tristeza. Agora entendo, claramente, que da mesma forma que a alegria pode ser um estado permanente, passando a ser ao invés do estar, a tristeza pode existir dessa mesma forma. Ou seja, uma coisa é estar alegre e outra coisa é ser alegre. Uma coisa é estar triste outra é ser triste. Como todos sabemos, uma coisa é ser outra coisa é estar. São dois verbos completamente diferentes, uma simples palavra que muda todo o sentido de uma frase ou de um ser humano. Há muita coisa que pode contribuir para isso de ser triste, da mesma maneira que também contribui para sermos alegres. É certo que ser alegre é muito melhor. Pelo m...

Acordei-te IV - Brincos

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 - Aquele momento confirmava. O melhor da vida é o que não há de vir. Ele fecha o livro, coloca-o em cima da mesinha e leva o cigarro à boca. Encosto a minha face no tecido verde do sofá, encolho as minhas pernas. Tenho o lençol enrolado no meu corpo, o que me dá alguma sensação de proteção. Isso... Ou estar aqui com ele. Às vezes prefiro não atribuir a este homem todos os meus momentos de paz e engano-me a mim própria. - O melhor que temos será sempre o que já foi? Ou o que está a ser? Nada digo e apenas o admiro. O seu corpo nu, tornou-se presença habitual junto de mim. Só quando ele assim ficou comigo pela primeira vez, percebi o que era sentir-me livre. Com os meus olhos percorro a sua face, deixando-os, por alguns segundos na sua orelha. Aquele pequeno brinco na sua orelha dá-lhe sempre aquele ar distinto, de quem é grande mas que continua a brincar. - O que achas? - Ele insiste antes de olhar para mim. - Hum... Não sei... No meu caso, nunca nada me foi melhor do que isto aqui...

Poema da Tristeza Repetitiva

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Tenho em mim uma tristeza que me assola. Que me assola na minha quietude. Na minha quietude, onde tudo está em silêncio. Onde tudo está em silêncio, que revela a sua plenitude. Que revela a sua plenitude, tal como esta minha tristeza... Tal como esta minha tristeza que me consome. Que me consome como o lume a um fósforo, Como o lume a um fóforo que se some. A um fósforo que se some no ar, No ar que me tem presa a esta tristeza. A esta tristeza atroz, que me arranca tudo aquilo que sou. Tudo aquilo que sou, que se desvaneça! Que se desvaneça tudo aquilo que eu sou! Tudo aquilo que eu sou é igual a nada, como sempre assim fui. Sempre assim fui, escondida nas sombras. Escondida nas sombras, alguém que nada possui. Alguém que nada possui, salvo esta tristeza, Salvo esta tristeza que me pesa no coração. Que me pesa no coração, como uma pedra pontiaguda, Uma pedra pontiaguda que me perfura até à exaustão. Até à exaustão de não te ter, De não te ter e continuar a sobreviver, Continuar a sobre...

Harmonia Desconcertante

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A tarde está calma. Finalmente, o calor apareceu, o que me faz acreditar que, de facto, é verão. Há momentos em que parece que o tempo pára. Pára simplesmente e ali fico junto da natureza, num ambiente tão distinto daquilo que é o dia a dia. Dizem que é isso que faz com que aqui se fique com a sensação de que o tempo pára. Porque este local é distinto de tudo o resto. Não sei se será assim... Porém, às vezes pergunto-me se não o deveria experimentar. Ou seja, tornar esta calmaria da natureza o quotidiano e a selva da urbe no distinto. Sei bem que por mais bonitos que sejam os lugares se aí estivermos sozinhos, talvez não consigamos experienciar esta beleza por completo. Por vezes, a harmonia que outros nos conseguem proporcionar, chega a ser desconcertante. Como se fossem um colo permanente onde aí me posso sentar e assim ficar. É verdade que, por vezes, também me passa pela cabeça que se deveria falar mais, sorrir mais, questionar mais. No fundo, fazer com que a partilha seja cada vez...

O Preconceito Nunca Tem Graça

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Há uns dias vi um vídeo com "jovens" influencers , ou lá o que eram!, e eis que alguém fala da Amadora: "nem pensar que vou à Amadora", foi assim algo do género que o rapaz, que não devia ter mais de 19 anos, disse. Como percebi que aquilo era a sério não achei graça nenhuma. Não teve piada porque, o preconceito, nunca tem graça. Se falamos em piada declarada, tudo bem. Vejamos. Quantos de nós, amadorenses, não estivemos com outras pessoas que, quando descobrem que somos da Amadora, não usam o cliché "cuidado, não se metam com ela que é da Amadora" ? Como é uma piada, aceito, lido bem e acho graça. E, se querem que vos diga, ainda sinto mais orgulho em dizer que sou da Amadora. Aqui não se trata de preconceito. Trata-se de graça e aí tudo é possível. Aquilo que mais me deixou surpreendida, no video de que falo no início do texto, é que quem diz que não vai à Amadora, deixando nas entrelinhas que assim é porque aquilo é muito perigoso, é um miúdo. Sim. É um...