A Bela Pintura do Teu Aniversário

Ao longo da vida tenho visto e admirado diferentes obras de arte. Tudo me parece como uma bonita pintura em que todos os elementos se conjugam, com as suas bonitas cores, num cenário real ou idílico, alegre ou triste, mas sempre belo. Na pintura, as figuras podem ser estáticas, mas há muita ação. 

Admiro obras de arte frequentemente. Da mesma forma como te admiro.

Sabias que te admiro?

Vejo-te sempre rodeado de pessoas, mas, mais perto de ti, estão as tuas pessoas, cada uma com o seu gesto de amor e de alegria para contigo. Nessa pintura, sorris, como sorris!, com um olhar leve e onde todo o teu corpo emana harmonia. Depois, todas as outras figuras, que são as da tua vida, estão ao vosso redor, a festejar algo, talvez um evento importante...como... como o teu aniversário? Sim, será o teu aniversário onde de forma graciosa celebras com todos eles mais um ano de vida.

Quando se tem uma vida preenchida de histórias faz sentido celebrar um aniversário, não? Celebrá-lo e eternizá-lo num registo, hoje em dia em fotografia, claro. Antes seria numa bela pintura, adornada com a mais bonita das douradas e brilhantes molduras.

Eu nunca pertenci a essa pintura, creio até que nunca pertenci a qualquer uma. A mim coube-me o papel de as admirar. Como estarás feliz nesse momento, não? A tua mão no peito deixa antever a tua gratidão por teres todas aquelas pessoas contigo e por estares ali. Parece-me que poderia admirar a tua pintura até o tempo acabar, eu, no meu canto e em silêncio, apenas a seguir com o meu olhar todos os teus traços. Eu com a minha experiência em invisibilidade, tenho um doutoramento!, ficaria por ali, no meu canto e em sossego, sem que ninguém me visse, tranquila, sempre assim foi, a descortinar os teus pontos mais escuros, iluminados pela luz que emanas de ti próprio. 

Ao admirar a tua pintura é com exatidão que digo que sentes que estás onde é suposto estar, com as tuas falhas, mas também com as tuas virtudes. Com o amor da tua vida, mas também com a falta que outros te fazem. Não será tremendo esse sentimento de pertença ao lugar onde se está?

Pergunto, porque eu não sei o que é isso. Pensei que uma vez o tinha experienciado contigo, mas eu sei que foi mentira e que não foi nada disso. Sabias que o repito, vezes sem conta, a mim própria? Por vezes, o meu coração tende a pregar-me partidas e a levar-me, novamente, àquele tempo, lá no passado, e começo a acreditar que aquilo foi o que de mais verdadeiro eu alguma vez tive. O meu coração prega-me muitas partidas e é muito doloroso, pois, logo de repente, a minha razão prevalece e faz-me repetir vezes sem conta que foi tudo mentira.

Foi tudo uma ilusão.

Não houve nada.

Foi tudo mentira.

A minha razão fala sempre ao coração, como que a dar-lhe ordens e a pô-lo de castigo e, ao longo dos anos, ele está um pouco mais obediente. Infelizmente, ainda não está completamente obediente, amordaçado e em silêncio. Mas, tenho a certeza de que ele o vai ficar. Quando matá-lo em definitivo, e lhe tirar este sentimento de espera de que ainda vais aparecer e dizer-me que não foi tudo mentira, quando assim for, também morrerei. E ainda bem que assim é. Porque, quando eu o matar e eu morra, poderei, finalmente, descansar com a certeza da razão e a sabedoria do coração, finalmente emparelhados, de que não estás, nunca estiveste e nunca estarás. E como eu preciso de descansar, finalmente... Há anos que não sei o que é isso. Desde que te conheci, lá no passado, onde foi tudo uma mentira.

Pintura de Brueghel O Velho - "Festa de Casamento ao Ar Livre"

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