Traumas Tramados

Os traumas são tramados.
São eles que marcam, que moldam a personalidade, que nos definem. Seja muito ou pouco. Há sempre uma réstia dos traumas dentro de quem passou por eles... ou, ainda, passa.

Ainda pra mais se falarmos em traumas que o ser humano vive quando ainda é pequeno. Se, desde novos, presenciamos e vivemos situações que são aterrorizantes, como é de esperar que isso não nos afecte no crescimento?

Sempre digo: para percebermos porque é que uma pessoa, criança, adolescente, adulto ou idoso, tem certas atitudes, deveremos conhecer o que está por detrás delas. 

Ultimamente, tenho pensado muito sobre isso. Se alguém tem um acto despropositado para com o outro, que leva aqueles que estão à sua volta a ficarem impressionados, "chocados", isso tem sempre uma explicação. É claro que podemos pensar em doenças psíquicas mas, creio que, em grande parte, isso se deve a traumas.

Ainda hoje ouvi mais uma história. Aquela "típica" e recorrente má história: família tradicional. Pai bêbedo. Pai bêbedo que bate na mãe e no filho. Anos a fio. Finalmente, o filho sai de casa e forma família. A mãe foge do pai e vai ter com o filho. Os anos passam. O pai, que agora se encontra doente, muda de vida. Deixa os vícios e, a ainda mulher, volta para cuidar dele. O filho revolta-se. Deixa de falar com a mãe, expulsa todos à sua volta que lhe falam bem do pai... até a própria filha.

Todo o resto da audiência se questiona: como é possível? O homem não aprendeu nada?

Se este homem passou toda a sua infância e juventude a querer fugir, porque era vítima de maus-tratos, físicos e psicológicos, como poderia ter crescido e tornar-se adulto sem nenhuma mazela? A mazela está lá. A marca está lá e estará sempre lá. Não quero com isto dizer que o ato de expulsão da filha seja correto. Procuro, apenas, uma razão para o compreender. Espero que saibam que compreender é diferente de aceitar que está certo.

A meu ver, o que acontece é fácil de perceber: quem sofre em silêncio e apenas conhece a violência à sua volta das duas uma - no seu crescimento tem a sorte de ter bons exemplos que mascaram essa dor e revolta ou, por outro lado, cresce com uma frustração e inquietude que lhe toldam o pensamento, que não o deixam olhar para lá de todos aqueles anos de sofrimento.

É duro. Oxalá, todos conseguissem dar a volta por cima. Todos conseguissem encontrar uma forma de se protegerem mas, ao mesmo tempo, de conseguir abrir o seu coração a uma verdadeira amizade ou um amor que os faça voltar a ser humanos. Que os faça sair da sua dor. Infelizmente, são muitos aqueles que se perdem no seu sofrimento e vivem numa eterna amargura.

Acima de tudo, é preciso compreender e conhecer a história de cada um, antes de julgar, de condenar, de "crucificar". No caso deste homem, ninguém expulsa um filho só porque sim... É grande a probabilidade de quem sofre nesta amargura ser capaz de passar ao seu filho ou filha aquilo que é a compaixão, o perdão, o amor verdadeiro? Não me atrevo a dar uma resposta.

E tudo por causa destes malditos traumas. Destroem-se vidas, por causa destes malditos traumas.

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