O Romper da Corda
Nunca pensou que algo iria acontecer. Por isso, arriscou. Deu o passo em frente, tendo a certeza de que, na realidade, não iria sair do lugar.
E deu um primeiro puxão.
Porém, contra todas as expectativas, do outro lado também deram o passo em frente. também ousaram e responderam de volta.
E puxaram.
Ela sempre pensou que seria apenas daquela vez. Nada mais iria ocorrer, até porque não era possível nada acontecer. Ela tinha a certeza de que tudo era uma questão de simpatia. Empatia? Talvez. No entanto, novamente, a surpresa aconteceu. Da outra parte não foi dado apenas um passo em frente. Desta vez, foram dois passos em frente. E, num novo puxão, a força era ainda maior.
E ela não sabia o que dizer. Mas não recuou. A curiosidade de ver até onde iria aquele absurdo fez com que ela continuasse a puxar por aquela corda. Alguns minutos passaram e ela tanto puxou pela corda... que ela rebentou.
?!
Como era possível aquilo ter rebentado? Nunca lhe havia rebentado o que quer que seja, porquê agora? Porque é que isso tinha de acontecer neste preciso momento?
Ela ficou sem palavras. Muda por dentro. Por fora, a tentar manter calma. Parte da corda estava na sua mão, ela só a tinha de esconder.
Ciente de que acabava de colocar tudo em causa, ela deixou-se cair. Sem ideia do que é que ia fazer agora, do outro lado continuavam a chamá-la. Mas a corda já tinha rebentado e ela não sabia o que fazer... Tentar atar as duas partes da corda para poder continuar a puxá-la ou deixar-se ficar na sua ignorância e pequenez?
De súbito e sem ser convidado, o medo chegou. O medo apoderava-se de si... Medo de que a partir de agora as coisas fossem diferentes. Medo de que já nada voltaria ao que era antes. Medo de ter perdido a oportunidade construir algo de bom.
Agarrando a corda que restava com toda a sua força, ela respirou fundo. Agora já não era hora de pensar. Essa hora de pensar tinha passado por ela há momentos atrás, quando ela ainda puxava a corda. Mas ela tinha deixado essa hora de pensar passar por ela. Agora era tempo de arcar com as consequências. E, nesse momento, o medo saía, deixando o seu lugar vago.
No entanto, este não ficou vazio por muito tempo. A tristeza acabava de o ocupar.
Uma imensa tristeza invadiu todo o seu ser. Tristeza por não ter feito tudo aquilo que podia para manter aquela corda intacta. Tristeza por não ter parado a tempo. Tristeza por ter instigado uma situação com a qual, agora, não sabia e não conseguia lidar.
Era como se o universo lhe tivesse dado uma chapada. Como alguém disse uma vez: é preciso ter cuidado com aquilo que se deseja... Mais uma vez, como tantas outras ao longo da sua existência, a vida atirava-a ao chão, para que ela não se esquecesse que não é possível ter mais do que já tem. Para que ela percebesse que não é possível atingir os seus sonhos mais recônditos. Não é possível alcançar uma realidade diferente daquela em que vive e em que sempre viveu.
Não tinha valido a pena ter continuado a puxar a corda...
Da próxima vez, é melhor nem sequer fazer qualquer tipo de esforço. Da próxima vez é só se relembrar de toda esta situação tão desesperante, causada por si e por mais ninguém... E só porque ela pensou que daquela vez algo poderia ser diferente...
Mas não foi. E a corda rompeu-se e agora é irreparável.
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