Descanso de Nós Mesmos
Podemos tirar férias de nós próprios?
Podemos escusar-nos de viver a nossa vida por algum tempo?
Chegar ao pé de alguém ou de alguma entidade e pedir-lhe quinze dias de descanso de nós mesmos?
Descanso das nossas farsas, das nossas mentiras, das nossas tristezas, das nossas desilusões, das nossas fraquezas, das nossas obrigações... E de tantas outras coisas da nossa vida e do nosso carácter das quais nos queríamos libertar, nem que fosse, apenas, por uns dias...
Ao mesmo tempo que penso que é tão estranho sentir esta necessidade de esquecer quem somos, penso que é normal desejarmos sair da nossa vida, como se ela fosse uma casa, da qual podemos abrir a porta e sair. Mas temos a chave e sabemos que nada nos impede de regressar... Mas precisamos tanto de ir dar um passeio ao parque, ou beber um café no estabelecimento da esquina da nossa rua.
A única forma que conheço que nos permite descansar do que somos é a nossa imaginação. O ser humano tem a capacidade de imaginar tudo e mais alguma coisa, nomeadamente que está noutro local, num outro mundo, numa outra vida..
Porém, por mais que consigamos imaginar que estamos num outro universo, num ápice percebemos que não. Tal como num abrir e fechar de olhos. E aí a desilusão torna-se ainda mais premente.
A imaginação é bonita, mas já não é reconfortante, como costumava ser. Deixa uma espécie de melancolia que não consiguimos classificar. Mas não é reconfortante, mas sim desoladora. Sim. É isso. É uma malancolia desoladora, por nós demonstrar que a nossa imaginação não passa disso mesmo... De imaginar algo que nunca iremos alcançar.
Aí entram o clichés que me começam a enervar de um modo extremo, que já não consigo controlar. Tais como, "nunca se sabe o que pode acontecer" ou "a vida muda". Mas o maldito buraco onde estamos metidos não muda. Ou, pensando melhor, ele muda: cresce. Cresce cada vez mais à medida que o tempo passa. E nós cada vez mais fundo, sem conseguir chegar à superfície.
Mais uma vez: onde posso tirar férias de mim mesma? Isto começa a ser claustrofóbico.
Eu prometo que depois volto.
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