O Embate Com a Realidade

Existe sempre um momento que nos faz relembrar que temos de regressar à realidade. O perigo de se viver sempre numa "realidade alternativa" é mesmo esse: o da ilusão. Estar, constantemente, a pensar que vivemos num outro mundo, numa outra vida ou num outro lugar, pode levar-nos a pensar que tudo é possível. Que podemos alcançar qualquer coisa, o universo não é cruel, a sociedade não é canibal. Tomam-se certas atitudes, sem pensar, sonhando que sim, que vamos conseguir! 

Mas, essa "recompensa" não chega. Nunca chega. E depois vem o embraço... Sentimo-nos ridículos. Sentimo-nos rídiculos porque nos esquecemos daquilo que somos, daquilo que temos ao nosso redor. Sentimo-nos, até, envergonhados pela nossa estupidez de acharmos que desta vez ia ser diferente. Desta vez, aquele lugar seria nosso, desta vez ele iria olhar para mim, desta vez iríamos ser livres.

A realidade chega como um pedregulho que rola de uma montanha e cai-nos em cima e nos esmaga. E, pronto. Aí ficamos, de novo com aquilo que temos, com aquilo que somos. E pensamos que somos tolos. Somos tolos por termos sequer equacionado que tudo aquilo era real ou que, pelo menos, parte daquilo podia ser real. Choramos nas primeiras vezes, porém, quando o embate com a realidade é sempre tão contínuo chega a uma altura em que já nem choramos. Como se fôssemos um saco de pancada. Ao início ainda temos consistência, não somos moldados, nem temos marcas de uso. Depois com o tempo, as marcas vão se formando e começamos a perder consistência...

No entanto, há sempre alguma reluntância em nos "reduzirmos à nossa insignificância". Há algo em nós que nos faz estar sempre insatisfeitos com isso, por vezes, até revoltados com aquilo que somos ou com aquilo que temos. 

Creio que, se esse sentimento ainda existir dentro de voês, talvez não estejam completamente perdidos nessa "insignificância". E, se assim é, agarrem-se a isso. Façam uma loucura, saiam, mudem, dêem espaço a esse pequeno sentimento e deixem-no crescer. Sejam livres dessas amarras que vos fazem crer que nada valem. Sejam livres e façam aquilo que vos dá na gana.

Se já não houver nem sequer uma pequena manifestação dessa força dentro de vocês... Se já não se revoltarem com esse confronto com a realidade, então têm de continuar. Continuar a imaginar que estão noutro lugar, onde são felizes, onde nada os pode parar. É certo que viver aí faz com que depois se tomem essas tais "decisões" que, depois mais tarde, se podem vir a arrepender. Mas se não viverem numa ilusão, como podem sequer continuar a viver de todo? 

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