O Sentimento de Não Pertença

A sensação de que não pertencemos a lado algum é estranha.
É estranha, porque é suposto sabermos qual o nosso lugar. Onde nós nos sentimos bem, onde queremos ficar, de onde não queremos partir e onde queremos regressar. 

Se, por alguma razão, não temos esse sentimento de pertença é como se estivéssemos incompletos. É certo que essa pertença pode ser a um lugar físico, ou a alguém. Agora se não temos nem um nem outro, como nos podemos sentir completos? Isso parece-me impossível. 

Também é verdade que existem pessoas que não se sentem bem fixadas em qualquer lugar ou a acompanhar alguém, mas desconfio que, pelo menos, sabem onde querem regressar ao fim de algum tempo. No entanto, se também elas não têm onde regressar elas são também incompletas. Ninguém anda pelo mundo ou pelas pessoas de forma contínua e sem parar se tiver esse sentimento de pertença. Existe sempre um momento onde paramos, sentimos vontade de voltar ao nosso "porto de abrigo" para depois continuarmos com o nosso caminho.
Se estamos continuamente a passar pelos outros ou pelo mundo, é verdade que teremos histórias de vida enormes para contar... Mas para contar a quem? A quem se não pertencemos a alguém? Se estamos permanentemente sozinhos, muito embora conheçamos meio mundo?

Existem várias coisas que me assustam e, uma delas, é sentir que não tenho lugar. Porque, na verdade, se não tenho lugar vou para onde? Venho de onde? O ser humano tem de ter uma base. Tem de ter uma referência de alguém ou de um sítio porque é essa referência que o vai permitir ir à descoberta pelo mundo (seja o nosso ou o globo) e saber distinguir aquilo que lhe é apresentado e crescer a partir daí. É como quando saímos para correr. Podemos correr sem destino, o tempo que quisermos ou aguentarmos, mas sabemos sempre onde temos de regressar depois da hora do exercício: a nossa casa, ao nosso ponto de partida. 

Não ter essa referência deixa-nos sem motivação, sem acção, sem vontade e entusiasmo para fazer o nosso caminho... Até certo ponto, podemos até pensar que temos uma "boa vida". No entanto, um dia damo-nos conta de que chegarmos a casa não nos diz nada. Quase até que não queremos ali estar, mas também não conhecemos qualquer lugar onde gostássemos de estar. E isso é triste. É triste ficarmos presos porque não encontramos o nosso lugar. Não nos encontramos a nós próprios. E aí ficamos a desejar que tudo fosse diferente.

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