Vamos Falando!



O sentimento de quando deixamos as pessoas de quem mais gostamos é talvez aquele que seja mais difícil de classificar. Ficamos tristes, é certo, mas também sentimos outras emoções para além disso: é um misto de saudade, de alegria e de satisfação que nos flutua no coração. E toda essa parafernália de sentimentos deixa-nos sem saber como lidar com isso.

Por exemplo, se dizer "até à próxima" nos deixasse apenas tristes, saberíamos como reagir a isso. Talvez chorássemos, não teríamos vontade de sorrir e as boas memórias não seriam capazes de cobrir essa mesma tristeza. No entanto, este "até à próxima" àqueles a quem tanto queremos deixa-nos diferentes. Senti-mo-nos tristes pela falta de tempo para estarmos junto deles, por mais dias que tivéssemos tido para estarmos por perto, mas também somos capazes de sorrir com todas as boas recordações que construímos ano após ano, visita após visita, férias após férias. As conversas, as brincadeiras, aquilo que fazemos juntos. Todo esse bem-estar parece bater com força na tristeza, que de repente nos inundou, e assim nos deixa a sorrir.

Leva-nos a desejar nunca esquecer estes momentos preciosos, mas, mais do que isso, que novas recordações possam ser sempre criadas no futuro. Pensamos de imediato quando será a próxima oportunidade que vamos ter para estar com eles. E aí desejamos com todo o nosso ser que não passe demasiado tempo. E se passar que nunca percamos a relação já estabelecida pelos anos e que ao longo dos mesmos se foi tornando nos alicerces da nossa vida.

É engraçado que, muitas vezes, nem nos damos conta da forma como esses são os esteios do nosso ser, as guias para o nosso caminho. Faz algum tempo que eu já descobri isso... De como algumas das pessoas às quais sou obrigada a afastar-me fisicamente, uma ou duas vezes por ano, são parte desses alicerces. E talvez seja por isso, por ter essa noção da estabilidade que me oferecem, a confiança que me transmitem, do saber onde posso sempre regressar, e que nada me vão negar, do seu carinho e do calor do seu amor, que quando me desloco para a minha vida quotidiana fico sempre com as recentes memórias que construímos juntos a fervilhar na minha cabeça... A desejar ter apenas mais um dia para poder estar junto deles, nem que seja para passar um serão a jogar às cartas, ou então de roda da fogueira ou ainda a conversar sobre as nossas vidas, as nossas preocupações, as nossas ambições, nem que seja mais um momento para dizer disparates, fazer piadas ou beber um copo. Nem que seja mais uma hora para podermos ficar em silêncio e aproveitarmos a presença uns dos outros, que também é fundamental. Em tantas ocasiões, as palavras não são necessárias para sentirmos que não estamos sozinhos... E Deus sabe como aqui eu sinto isso: que não estou sozinha. Porque, como já disse, eu estou de novo com os meus alicerces.

E esse desejo de termos a possibilidade de estar apenas mais alguns momentos, esse nunca mais acaba. Creio que essa seja uma das duas causas para sentir esta tristeza do "até à próxima". A outra é, sem dúvida, o facto de irmos, de regressar novamente à realidade do nosso dia, ou seja, o facto de protagonizarmos exactamente as palavras: até à próxima.

Quando será a próxima vez que estaremos fisicamente juntos, isso não posso saber, só posso desejar que isso aconteça em pouco tempo. No entanto, também sei que há outras formas de estar junto, outras formas que permitem que estes laços continuem sólidos e a crescer, E tenho a certeza de que isso não se perde, muito pelo contrário, é reforçado, porque sentimos sempre essa necessidade de comunicar uns com os outros. E é também isso que me permite dizer "vamos falando" e não "até à próxima", porque "vamos falando" é uma certeza absoluta. E é esta certeza absoluta que me permite continuar e a ter forças para o que se segue.

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