As Farripas da Borracha

No final de mais um domingo caminho até casa, completamente perdida em considerações acerca daquilo que me foi dito e daquilo que vejo. 

No entanto, sei que tenho de parar com isso e evito continuar a pensar, desviando a minha atenção para aquilo que vejo na rua. Algumas pessoas estão alegremente a falar numa esplanada. São, sem dúvida, o exemplo vivo da boa disposição e do quanto é bom estarmos confortáveis num local e com as pessoas ao nosso redor. Escapa-me um sorriso, embora, confesse, seja um sorriso melancólico. 

E o que pode ser isso? É uma daquelas expressões que são uma mistura de sentimentos: uma conjugação de saudade, contentamento e tristeza por aquilo que já tivemos e que deixámos de ter. Assim. Do dia para a noite. Na minha opinião, essa é uma das piores coisas que se pode fazer a alguém. É uma daquelas coisas que mais me custa a aceitar: que não fui capaz de as reter para mim, que não protegi aquilo que realmente me era importante. 

Aquilo que mais dói é perceber como é que as pessoas têm a capacidade de passar uma borracha em toda a história que criam em conjunto. Basta apagar. A folha está novamente em branco e vamos seguir em frente. Quem não é assim, acaba por ser as "farripas" da borracha que ficam para trás e que os outros sacodem da folha para o chão.
Somos o resto. 
Sou aquilo que já não interessa, que não tem qualquer utilidade é que vai acabar por ser pisado ou levado para o lixo.
Somos lixo. 
Senti-mo-nos como lixo.

Tenho muita dificuldade em entender de que forma é que as pessoas conseguem fazer isto umas com as outras. É porquê? Porque é esse o seu feitio? É porque não têm a mesma concepção de amizade do que eu? 
Não sei.

E é esta falta de razões para justificar o distanciamento que nos pode corroer. 
A única solução será aceitar?
Poderemos fazer algo mais? 
Ou estaremos a dar demasiada atenção a isto? 
Será que estamos perante um problema ou isto não é nada. Somos demasiado preocupados? Mas, como é possível medir a intensidade de um problema? Isso é mensurável? De que modo? Talvez este seja um bom tema para um próximo texto...

No fundo, aquilo que esta reflexão me leva concluir é isto:
Continuo a acreditar que a amizade existe. 
Que nenhuma mudança no mundo pode distanciar duas pessoas pessoas que são verdadeiramente amigas.
Continuo a acreditar que numa amizade verdadeira e desinteressada, onde há confiança, abertura e honestidade. 

Infelizmente, aquilo que me continua a magoar é saber que essa amizade pura não existe entre todos. É rara. Tão rara que, creio, muitas não a conseguem encontrar e reconhecer ao longo da vida. 

Comentários

  1. Como eu te compreendo... Mas a vida é feita de momentos e no fim ficam as recordações das amizades do passado...

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