O Perigo da Reflexão em Demasia
Estar muito tempo parada faz-me reflectir mais do que o habitual. Talvez seja por isso que detesto estar assim. Quieta. Sem poder sair, nem estar em actividade permanente. Porque isso faz-me pensar ainda mais nas coisas. Nas coisas do dia-a-dia. Nas coisas que se vão passando. Naquilo que faz parte do passado e o medo tremendo que o desconhecido me provoca. Faz-me pensar nas pessoas. Naquilo que elas são. Naquilo em que elas se transformaram. A razão de algumas permanecerem e a dúvida e o questionamento sempre presente porque é que outras se foram embora.
Mais do que isso, faz-me pensar onde estou agora. É o mesmo local onde estava há dez anos atrás? De certo modo não, mas de certa maneira sim. Imaginava-me eu, há dez anos atrás, estar onde estou, com quem estou e a ser o que sou? Claro que não! Muitos dizem que é aí que reside o melhor da vida: o facto de esta ser imprevisível. Para ser sincera não sei ao certo se concordo ou não com isto. O facto de a vida ser imprevisível pode ser bom. Porque tendo um objectivo, as imprevisibilidades da vida vai colocar-se nesse caminho e a força do nosso carácter constrói-se precisamente aí. São essas vicissitudes que nos moldam a forma de ser e a nossa postura. Porém, tenho muitas dúvidas em aceitar que seja bom ao longo dos anos esses objectivos iniciais ficarem para trás. Parecerem-nos agora impossíveis e descabidos. Até nos mais simples... Tudo porque a vida é imprevisível.
Há seis ou sete anos atrás nunca me teriam passado pela mente certas coisas que ganhei, mas também outras tantas que perdi. E que custam tanto. Custam-me pedaços de mim mesma ter perdido o que perdi. Talvez sejam esses os obstáculos que esta minha existência me impõe. Mas trazem dor. Dor e solidão. E a certeza de que nada se mantém. Nada. De um dia para o outros as coisas mudam, as pessoas mudam, eu mudo. Sim, porque a vida altera quem nós somos desde pequenos. É capaz de fazer de nós crianças alegres e transformar-nos em adultos tristes, ou o contrário. É capaz de mudar aqueles que conhecemos, para pessoas que desconhecemos por completo. É capaz de nos dar um belo chão para andarmos e depois o retirar. É capaz de nos segurar, mas é tão capaz de nos largar, de nos fazer cair.
Há seis ou sete anos atrás eu achava que tudo ia ser diferente. Que a alegria que sentia nunca se iria desvanecer... Que alguns dos amigos não se iriam desvanecer. Teria percorrido meio mundo e seria livre. Completamente livre para poder fazer o que me desse na gana. Tudo iria diferente. Não saberia o que são cantos. Sim, não conhecia essa sensação de ser descartada.
Existem pessoas que de uma maneira ou outra conseguem ter aquilo que os fazem mais felizes. Penso muitas vezes que essas pessoas devem aproveitar isso muito bem. Porque não há nada mais importante do que isso.
Uma vez, uma pessoa que conheço, disse-me, com um sorriso, que não tinha medo de estar só: "desde que eu tenha uns filmes, umas séries e os meus livros para ler, tudo bem!". Tem razão. Por mais vazios que estejamos desde que nunca percamos o gozo que temos pelas mais pequenas coisas da vida, isso dar-nos-á algum alento.
Mas, voltando ao início do meu texto, tenho cada vez mais a certeza de que reflectir em demasia é prejudicial. É muito prejudicial. Porque nos faz questionar. Questionar tudo!
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