Uma Janela num Beco Sem Saída

Está um frio medonho e muitas vezes parece que todas as extremidades do meu corpo deixaram de ter vida, que o sangue as deixou de alcançar e, que, por isso, simplesmente as deixo de sentir. No entanto, em parte, é precisamente esse frio que me faz sentir que estou viva, que existo. Se ele me incomoda assim tanto, então é sinal que ainda me deixo incomodar por algo e isso é a prova de que não sou uma máquina e que continuo a sentir algo como todas as outras pessoas.

No mundo que me rodeia facilmente caio na triste e mundana condição humana em que mais pareço um autómato baseado em regras, ideias impostas e preconceitos. Como se eles me comandassem e eu nem desse conta, apenas seguisse o enorme rebanho que são os outros que se regem por objectivos e propósitos sem fundamento nenhum.

Frequentemente ponho a culpa noutras pessoas em relação àquilo que me acontece. Sou assim, porque alguém me fez assim. Mas estando a pensar nisso demasiado tempo ocorre-me a seguinte questão: e se estou aqui e sou assim por minha própria culpa? Por não ter a força e o carácter suficientes para ser outra pessoa. Para lidar com o mundo lá fora de uma outra maneira. Para chegar à minha liberdade, agarrá-la e não deixar ninguém voltar a roubá-la. Como me agrada a ideia de ser livre... Como sorrio ao pensar qual o sabor, o olfacto e o tacto da liberdade. Porém, algo impede essa minha acção. Essa vontade de romper com o que encontro todos os dias à minha frente. O medo, as amarras de quem exerce sobre nós uma influência tão grande que chega a ser estúpida, porque, na realidade, nada na nossa vida deve ter uma influência maior que nós mesmos, maior que a nossa vontade de agir. Essa vontade de agir que nos é dada pela posse da nossa liberdade. E é aqui. É exactamente aqui neste ponto que encontro algo que não me faz sentir tão mal comigo mesma. Se não tenho liberdade, como posso ter essa mesma vontade de agir? Se não a tenho, então tenho de ter a liberdade para o fazer, mas não consigo encontrar o caminho para encontrar essa liberdade. É um beco sem saída. Vivo num beco sem saída. Mas neste beco existe uma janela.

É nessa janela onde encontro essa outra parte que faz sentir viva para além do frio. A janela do amor e da amizade. Ou se quisermos, simplesmente, amor, porque a verdadeira amizade também é isso. Nos momentos em que o amor está presente (entre risos, conversas, gargalhadas, confidências e verdadeira partilha, gestos de carinho, um abraço, um beijo) são os momentos onde eu consigo subir a essa janela e ver o horizonte. Esses são os momentos em que adormeço com uma paz que me faz descansar e esquecer das paredes que me cercam. 

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