Podíamos Ter Sido Tudo

É verdade. 
Podíamos ter sido tudo. Em conjunto poderíamos ter conseguido tudo.
Se tivéssemos encontrado um modo de conciliar as nossas vontades e de as circunstâncias trabalharem a nosso favor. Mas, sobretudo, podíamos ter sido tudo aquilo que queríamos, e que continuamos a querer, se apenas tivéssemos tido a clareza de espírito de nos darmos uma oportunidade... 
De nos encontrarmos... 
De nos falarmos....
De nos tocarmos... De sentir a pele um do outro. A textura da nossa pele. Com apenas um toque da tua mão tu saberias por onde seguir. E com um beijo teu eu saberia o que fazer a seguir.

Podíamos ter sido tudo aquilo que desejamos. Se apenas nos tivéssemos beijado. Bastava sentir os teus lábios nos meus. Os teus lábios no meu pescoço e no meu peito. Apenas isso faria com que nos esquecêssemos de toda a podridão que estava à nossa volta e que continua a estar. Mas apenas com um abraço poderíamos superar essa realidade que nos enoja. Porém, isso agora já não é possível.

Podíamos ter vivido aquilo que não vivemos. Podíamos ter-nos conhecido melhor. Conhecer o inconsciente de cada um. Adivinhar aquilo que somos. Antecipar as acções e decisões um do outro. Melhor do que a nós próprios. Serias alguém que finalmente conseguiria entrar no meu mundo e eu teria entrado no teu. Bastava que apenas tivéssemos dado aquele passo, naquele pequeno instante, que aprecia tão impróprio.

Podíamos ter conhecido o mundo. Viajar até aos locais mais recônditos, mais populosos, mais históricos, mais modernos, mais desertos, mais confusos. 

Podíamos ter descoberto o corpo um do outro. Conhecer cada parte de nós próprios. Cada mancha, cada sarda, cada sinal. Cada um deles teria uma característica única que o diferenciava de todos os outros. Tal como nós nos iríamos conhecer: a nossa mais ínfima mania, o nosso mais pequeno defeito, a nossa maior virtude. Podíamos ter sido um só no calor dos nossos corpos e essa união ser eterna. 

Podíamos ter sido tudo se apenas tu não te deixasses ir no mar que te levou de mim. O mar que também conheceríamos se estivéssemos os dois juntos, neste preciso momento. Poderíamos ter conhecido esse mar se as suas correntes não me tivessem empurrado para longe de ti.

Podíamos ter sido tudo e saciar os nossos desejos, superar as nossas dificuldades, construir os nossos sonhos, cairmos juntos, levantar-mo-nos apoiados um no outro.

Podíamos ter sido tudo se apenas tivéssemos feito um pequeno e mísero esforço. Se tivéssemos mantido a vontade de nos falar, a curiosidade de nos descobrirmos. Podíamos saber o que é sentir a falta de alguém, mesmo sabendo que estamos com essa pessoa. Podíamos saber o que é a verdadeira confiança. Aquela confiança que nos manteria como um muro de cimento que nunca é derrubado. 

Mas, também, em conjunto experimentaríamos o sofrimento que nos mata por dentro e saberíamos bem dentro de nós a forma de encontrar o consolo. Conheceríamos a desilusão, mas iríamos trabalhar para que não a conhecêssemos de novo, pelo menos entre nós os dois.

Podíamos ter conhecido a total liberdade e a crua honestidade. Teríamos perdido a conta aos nossos prazeres e suprir as nossas necessidades que, a cada dia que passa, nos levam a cometer os piores erros da nossa vida. Tudo porque não nos soubemos encontrar...

Saberíamos o que é nunca estar sós. 
Poderíamos ter sido tudo. 
Poderíamos ter sido felizes.
Mas não o fomos.
E não o seremos.

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