A Loucura da Sensatez

Como é que se pode definir aquilo que é importante daquilo que não é?
Poucas vezes tive necessidade de pensar muito acerca desta questão. As minhas decisões quase que eram inatas. Facilmente conseguia decidir entre aquilo que parecia ter interesse e aquilo que parecia ser completamente acessório.

No entanto, há sempre uma vez para tudo. Por isso, talvez não seja de estranhar que, pela primeira vez, pare mais do que dez minutos para pensar sobre o que decidir. Acreditava que, com o passar do tempo, estivesse ainda mais preparada para fazer escolhas. Ou seja, que tivesse uma maior destreza para a fazer. Agora, escolher entre falar sobre o assunto A ou dissecar o assunto B parece ser extremamente difícil. 

Sempre baseei as minhas decisões na minha sensatez, que muitos apontam como a minha maior qualidade. Até agora esta sensatez não me deixou ficar mal, conseguindo fazer as minhas escolhas de forma livre, voluntária e com princípios. Por muito que algumas pessoas não gostassem dessas minhas decisões eu justificava-as, sem qualquer problema, porque eram atitudes que faziam sentido. E, para dizer a verdade, até aos dias que correm, poucos se queixaram disso.

Aquilo que para mim se torna assustador é que tudo está numa comp
leta loucura. A minha sensatez podia manter-me no caminho correcto, sempre tendo em conta valores que, por vezes, penso que estão em extinção. Porém, se tudo está numa completa loucura é a minha sensatez que deixa de fazer sentido. Fica injustificável, porque ela não consegue agir de acordo com a paranóia pela qual estamos rodeados: seja na família, em casa ou no trabalho.

Cada vez mais tenho a sensação de que as pessoas deixaram de ser conscientes. As suas mentes são, muitas vezes, lavadas por "modas" que lhes entram pelos olhos sem qualquer impedimento e questionamento. A sociedade está virada para o absurdo. Aquilo que antes tornava alguém diferente, agora está em voga. Ter uma personalidade e opiniões próprias parece ser uma raridade. Deste modo, decidir consoante aquilo que alguém diz é muito mais fácil. No meio desta loucura quem dita aquilo que se faz é esta mesma loucura. Ou seja, a maior parte de nós age consoante o mais louco e descabido que pode haver. E isso passa a tornar-se aceite, normal, sendo, depois, transformado em regra.

Talvez seja pelo facto de a loucura ser regra que a minha sensatez não
consiga ser compreendida e nem  consiga produzir um efeito de sentido e de consciência. Talvez seja por isso que a minha escolha entre o assunto A e o assunto B pareça ser descabida e sem nexo. Porque agora é a loucura que reina e a sede de chegar sempre em primeiro. O resto já não importa.

Sei bem o que aconteceria se fizesse parte desta loucura e a adoptasse como conduta. Pelo menos, isso não me causaria dores de cabeça e tornar-me-ia numa dessas pessoas que sorri perante tudo, porque não entende o que está por detrás... Seria uma daquelas pessoas vazias e que consente a tudo o que lhe é dito e impingido, sendo assim muito menos revoltada e, concerteza, muito menos frustrada.

Porém, tornar-me-ia igual a tudo o resto. E, isso, é o pior que me podia acontecer.

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