A Vida Foi-lhes Cortada Pelo Pé

A guerra mata.
A guerra serve interesses.
A guerra protege.
A guerra ataca.
A guerra destrói.
A guerra fere.
A guerra muda.

Primeiro Ataque.
Primeiro contra ataque.
Estado de Sítio.
Prolongam-se os mútuos ataques.
Mortos.
Dinheiro.
Negociações.
Fim.

A guerra acontece em certos locais muitas vezes esquecidos pelos outros. Mas não por aqueles que lá têm algum interesse: seja territorial, económico ou político.
As invasões apenas acontecem por interesses. Não é pelo ingénuo sentimento patriótico que nos incutem. Tretas.
Esse nacionalismo fervoroso, que nos faz crer que somos melhores do que qualquer outra nação, faz crescer em nós o desejo de fazer calar, de nos vingarmos e de partir rumo ao objectivo comum: partir para o combate. Vangloriarmo-nos aos céus para que todos os indivíduos da sociedade acreditem que é isso que se tem de fazer.
Tudo isto é-nos impingido por uma valiosa e bem estudada propaganda.

O povo acredita, ou pelo menos a maioria.
Há uns que se retraem, porque preferem a tranquilidade do que ir sujar as suas mãos num país que mal conhecem, para defender causas que mal percebem. Calam-se. Têm medo. Não podem fugir.

E assim vai um país em massa para a guerra que nos vai recuperar a glória e restabelecer aquilo que nunca nos pertenceu, mas que alguém permanece com a ideia ilusória de que sim. De que há algo que lhes pertence… Recordo-me da Guerra colonial. Falando dessa mesma guerra, muitos não sabiam ao que iam. Uns iludidos, outros com medo, outros convencidos, outros interessados e outros calados.
Mas todos foram.

Quando um soldado vai para a guerra sabe quando partiu, mas nunca sabe quando volta.
Se conseguir voltar para a sua casa, a sua cabeça pode não regressar com o corpo. Fica sempre lá. Mas, como sempre, vemos de tudo: uns felizes, outros com os bolsos mais cheios daquilo que mais ambicionam, outros mutilados, outros feridos, outros que se vangloriam com mais títulos militares e outros doentes.

Quem se saiu bem desta guerra ou ainda vive na ilusão de que Portugal é um país imperialista (e graças a Deus que não o é!) encontra todos os pretextos para vangloriar uma época de massacre: o heroísmo dos militares portugueses e o estreitamento de laços entre as várias colónias e o nosso país (a nível pessoal e só para alguns - amizades que por lá se fizeram; a nível político e económico - só uns anos depois do 25 de Abril).

De quem de lá saiu com o stress pós-traumático, mutilado e sofrido esses de certeza que não acreditam que a Guerra valeu a pena... Nem as suas famílias que tiveram de lidar com as sequelas que este conflito deixou.
O sofrimento de quem não consegue fazer nada…
A insanidade mental.
E agora?
Nem sequer aqui falo das muitas vítimas civis deste conflito. Tanto a elas, com aos militares portugueses e aqueles que defendiam a independência do seu país a vida foi-lhes cortada pelo pé.

Não quero dizer que aqueles que lá combateram não foram corajosos e muitos deles, talvez, heróis. Mas outros aproveitarem-se disso para fazer passar uma imagem limpa da guerra colonial, isso é, a meu ver, absolutamente desnecessário. Absolutamente revoltante.

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