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Carta ao Final do Dia

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Hoje queria dizer-te que fiz uma coisa boa. Ajudei alguém e sei que ele está melhor agora. Está feliz. É boa esta sensação com que se fica depois de ajudarmos alguém, não é? Gostava muito de poder partilhá-la contigo e contar-te esta história. Tenho a certeza de que irias sorrir e irias dizer qualquer coisa do género: "só tu" . Eu ficaria ainda mais contante por poder partilhar contigo o resultado do meu gesto e sentiria que não podia estar mais centrada no meu presente. Sabes, hoje queria dizer-te que também me irritei. Irritei-me com a mentira, com o encobrimento da verdade, com a falsidade. Apesar da minha irritação, fui capaz de dizer a verdade, de a mostrar, de a mandar cá para fora. Fui capaz de a escarrapachar, sem medos. Apenas e só porque é aquilo que devo fazer, independentemente das suas consequências. Sei que ficarias preocupado e, talvez, a tua primeira reação fosse tentar fazer com que eu parasse de querer dizer a verdade. "Não vale a pena colocares-te em p...

Invisibilidade

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Um outro dia lembrei-me de uma conversa que tive, há alguns anos, com uma pessoa em que falámos do que é ser invisível. Eu era uma miúda e de uma maneira meio acriançada, com um sorriso demasiado aberto, disse-lhe: "eu gostava de ser invisível, assim ninguém dava conta da minha presença". Sabiamente, essa pessoa respondeu-me "Não... Ser invisível não é bom. Ninguém repara em nós". Eu deixei de sorrir tanto e por alguns segundos pensei bem no que ela me estava a dizer. Estranhamente, não tive vontade de contrapor esta sua afirmação com aquilo que julgava certo. Às vezes os adolescentes são chatos com essa vontade de fazer valer a sua opinião. Creio, até hoje, que  não tive essa vontade porque aquilo que ela me dizia até me fez sentido. O certo é que nunca mais me esqueci das suas palavras. Chegada aqui, sei que ela tinha toda a razão. Ser invisível é duro. É estar no meio de uma multidão e não termos nada que nos diferencie de tudo o resto. Algo que leve alguém a nut...

Uma Luz que se Apagou

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(Marta entra em palco. Olha em frente, para a cama, com as mãos entrelaçadas, atenta a tudo o que vê. Depois, olha para o seu lado direito, onde está uma estante. Caminha até ela e passa os seus dedos, levemente, pelas prateleiras, verificando se tudo está no mesmo lugar. Rodopia e caminha até à mesinha de cabeceira. Coloca a mão no candeeiro, ajeitando-o. Vira para a frente uma moldura sem fotografia e acena. Marta continua a andar até ao toucador, do lado oposto à estante. Marta pára em frente ao espelho e inclina-se. Fixa os olhos no seu reflexo. Ela pega na sua trança comprida e admira-a, por um breve momento). Marta: Está, exactamente, como antes. Exactamente, com o mesmo comprimento. (Marta passa as mãos pela sua trança). Exactamente, igual aquando da… (ela cala-se e pega na ponta da trança) Aquando da sua chegada. (Marta olha para a plateia). Como tenho saudades… Como ainda sonho… Ainda sonho que o vou encontrar. Eu sonho que o vou voltar a ver e ele estará igual. Exactamente ig...

Jornalismo, Dar ou não Espaço ao Errado? Eis a questão.

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Dizem que o jornalismo é liberdade. Dizem que o jornalismo, o bom, é um dos garantes da democracia. Dizem que o jornalismo tem de ser independente para informar o cidadão. O jornalismo deve informar. O certo e o errado. Ultimamente, tenho tido muita vontade de não dar voz àquilo que considero errado. Errado para o mundo, para o país, para a cidade. Errado para qualquer sociedade. Não lhes quero dar palco. É verdade, admito, há muito que quero restringir o espaço a quem defende as restrições da liberdade.  Eu posso querer fazê-lo, mas, ontem, fui obrigada a fazer o que é suposto, ditado pelas regras. E foram apenas alguns parágrafos, nada de muito extenso. Porém, sei que vai chegar o tempo em que terei de dar mais do que alguns parágrafos a esses, que para mim são um erro das sociedades modernas, e eu tenho de engolir esse sapo. Já engoli muitos ao longo de dez anos, este será apenas mais um. Porém, confesso, a perspectiva de ter de engolir este, que para mim é um "sapão", afl...

Tempo, para Longe, Leva-me!

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Sinto que tudo é uma prisão, Quando vivo a tua ausência, Na minha solidão, Na tua inexistência. Recordo-te todos os dias, Na tua postura desprendida, Nas palavras que me devias, No teus braços protegida. Não serei eu o que tu querias? Por certo, estou longe do que pensarias. Por Outra esperarias, Onde, no seu colo, tu morrerias! Ainda te sinto do meu lado Como se o tempo não tivesse passado No meu choro imaculado No meu amor desinteressado. Clamo aos Céus por mim e por ti Para que de uma vez alguém Me perdoe pelo crime que cometi De te amar como ninguém... Dói-me o peito carregado de angústia, Por não mais te vislumbrar. Cabe-me esta pura modéstia De ao longe te amar. Mas, pergunto como tanto me tiveste enganada, Iludida pelos teus belos ditos, Com os teus gestos fascinada, Perdida nos teus olhos eruditos! Olhos que tanto me acalentaram, Como se a mim me quisessem, Que tanto me disseram Como se de mim dependessem. Guardo em mim esta dor De não poder compreender Este sentimento avassala...

Transcendente - Acordei-te V

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- Porque é que me estás a olhar assim? Pergunta-me ele com o seu melhor ar de desajeitado. Meio ruborizado e com aquele sorriso nervoso que ele tenta sempre disfarçar. Meu Deus. Eu amo-o. Eu amo este homem de uma forma inigualável, única e distinta. É um sentimento maior do que eu e, talvez seja por isso, que não consigo dizer-lho. Dizer-lhe... Ainda não consigo dizer-lhe que o amo. Não sei se algum dia vou ser capaz... Com o medo de que assim que essas palavras, Eu amo-te, saiam da minha boca também este sentimento se desvaneça e tudo acabe. - Ei... O que foi? Agora ele está a rir-se, sentido-se já pouco confortável por eu não lhe responder e apenas o admirar. Sim. Como eu gosto de admirá-lo. Admirar todas as pequenas marcas que tem no pescoço, o pequeno sinal atrás da orelha, as leves rugas que se formam perto dos seus olhos, ou a sua barba indisciplinada. Penso que... Não, tenho a certeza! Tenho a certeza de que foi numa dessas vezes em que o admirei que percebi como o amava. - Nada...

Estou à Espera

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Estamos sempre à espera. Estamos sempre à espera que algo de diferente aconteça nesta merda em que vivemos. Eu, pelo menos, espero isso. Não. Eu não espero isso. Eu anseio por isso. É muito diferente. Ou não será? Quer dizer o mesmo, mas o peso é diferente. Por isso, não tem o mesmo significado. Ou melhor, tem. Mas tem um outro sentido. Sim, tem um outro sentido. Assim é que é. Estou sempre à espera. Estou sempre à espera de que algo de bom aconteça. Já não quero nada de estonteante. Já só quero alguma coisa boa. Alguma coisa que me engane e me iluda para que possa continuar a viver. Para que possa continuar a viver esta vida mísera, Sem qualquer significado... Nem sentido. Como se vive uma vida sem significado e sem sentido? Não sei. Mas, estou à espera. Ai, como eu estou à espera de deixar de sentir, de deixar de querer, de deixar de pensar. Como anseio por esse antídoto que me vai fazer deixar de te sentir. Para que eu possa, finalmente, descansar. Imaginam sequer a falta que me faz...