Morrer de Tristeza

Há muito tempo que me pergunto se é possível morrer de tristeza.

Esta tem sido, aliás, uma questão sobre a qual filósofos, médicos, escritores e poetas se debruçam ao longo do tempo. Talvez, os mais sonhadores não possam vislumbrar esta possibilidade de morrer de tristeza. Afinal, a tristeza é um sentimento, não é visível à maior parte dos olhos, pode-se esconder, e não provoca dor em qualquer órgão humano. 

Sendo a tristeza um sentimento é difícil de curar... Afinal, como se pode curar um sentimento? Se tiverem alguma cura milagrosa para qualquer sentimento que exista no ser humano, peço-vos que o partilhem comigo. Como se cura a raiva? Ou a paixão? Como se cura a angústia? Como se cura o amor? Eu, confesso, não faço a mínima ideia. Da mesma maneira que não tenho qualquer resposta para a pergunta "como se cura a tristeza?"

Se não existe uma cura, será, então impossível fazer com que ela deixa de existir em nós? Todos nós temos dias maus, em que não estamos bem nem connosco nem com ninguém. Aqueles dias em que não estamos bem onde estamos mas também não sabemos onde queremos ir para nos sentirmos melhor. Mas, a tristeza importa consigo um sentir permanente, profundo, muitas vezes disfarçado com o sorriso que inventamos para o outro ou, por outro lado, fica quieta num canto onde nós a colocamos enquanto vivemos uma boa experiência: uma conversa com um amigo, uma tarde de brincadeiras com a família ou um passeio à beira-mar. No entanto, o cerne da questão continua lá: a tristeza está sempre connosco. Por vezes, até começa a passar despercebida dentro de nós, no entanto, há uma altura em que ela despoleta, com toda a força e sem pedir licença. Como se a tivéssemos colocado numa caixinha, mas ela, invariavelmente, arranja sempre forma de se libertar.

É por isso que me questiono: será possível que se morra deste sentimento? Será possível que a força da emoção que traz consigo seja tão grande que se permita a tomar conta de todo o nosso corpo e do nosso coração até que o faça parar?

A palavra tristeza tem origem no termo latino "tristitĭa", que significa ausência de ânimo, aflição. É, por isso, notório que o nome dado a este sentimento é antigo e, de certo, que muitos falaram dele ao longo dos séculos. Como escrevi no início do texto, muitos adotaram a tristeza como objeto de estudo ou até a tornaram na sua inspiração. A arte está repleta de menções à tristeza. Creio até que grandes obras que hoje conhecemos nasceram deste sentimento por vezes subtil outras vezes avassalador.

No fim de contas, talvez a tristeza profunda, contínua e disfarçada deixe o ser humano mais propenso a ter alguma coisa com a qual não saberá lidar e nem se dará conta de que vai crescendo, crescendo, crescendo de forma silenciosa e mordaz. Deixar-nos-á mais propensos a ter algo que pode não ser bom e que, com o que vai acontecendo, se transforma numa enorme bola de neve e... tudo termina. 

Não se morrerá de tristeza, como dizem os poetas, mas a necessidade de lidar com este sentimento de forma contínua acabará por ser extenuante, deixando, por isso, a dúvida de que se será este sentimento a causa de que tudo termine.


Imagem: "Maria Maddalena in Estasi" de Caravaggio (cerca de1606)

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