Rogo-te

Rogo-te que me desiludas novamente. Sim, relembra ao meu coração que toda e qualquer esperança que ele possa ter por ti é infundada... que ela faz parte de um qualquer imaginário meu, longe de qualquer realidade, que apenas vive no meu sonho.

Peço-te, por favor, que me voltes a desiludir. Assim, de forma crua e fria, não me mostrando qualquer coração que te possa acompanhar. Como se eu nada fosse, minimizando-me à pequenina pedra que esteve, por uma vez, no teu sapato e que tu, rapidamente, descartaste.

Sim. Descarta-me. Peço-te, por favor, meu amor, que me descartes, que me ponhas de lado e que me voltes a ignorar de forma simples e sem qualquer peso na tua consciência, como se eu nada merecesse nem nada fosse.

Relembra-me, outra vez, por favor, que eu nada sou, eu nada te devo nem tu, sequer, me deves uma qualquer, pequena, e singela coisa. Não há qualquer elo de ligação entre nós dois, seres humanos distantes, indiferentes e distintos, estando em lados opostos em tudo aquilo que nos rodeia... Tão longe um do outro que nos é absolutamente impossível ter qualquer tipo de encontro.

Sim. Continua a mostrar-me que não nos voltaremos a cruzar, que o nosso breve encontro foi fruto do acaso, sem qualquer propósito ou causa especial e única. Tudo foi um terrível desvio nesta estrada de sentido único, sempre plana e com a mesma paisagem.

Mostra-me, para sempre, que nenhum, mínimo e qualquer interesse existiu. Foi tudo feito de nada, comandado por botões onde a mecânica é a essência de todo o processo, sem qualquer palavra dita pelo teu coração ou pela tua mente quente.

Espero não esperando mais nada, com a certeza de que irás ouvir as minhas preces e, um dia... Um dia, meu amor, aceitarei que tudo existiu por nada, que tudo foi um terrível erro que eu não pedi, sem qualquer lição que eu precisasse de aprender de forma tão cruel e tão dura. Um dia, meu amor, permanecerei sentada, no meu banco preferido, sabendo que já nada do que eu alguma vez julguei que fomos, possa sequer ter existido, a não ser na minha cabeça e no meu coração. Sim. Existiu no meu coração.

Rogo-te para que continues a desprezar-me para que eu possa, finalmente, chegar a esse momento de tranquilidade... Esse momento em que compreendo e aceito, sem uma e qualquer ínfima imagem saída da imaginação que, aos dias de hoje, ainda me trai a vida. Rogo-te pelo vazio do meu coração e do meu sonho para que, finalmente, já não tenha nada por que esperar. Que já não há nada a esperar de ti! Aí, sim.  Poderei descansar um pouco.

Imagem: "Woman Kneeling In Prayer" de George Henry Boughton

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