A Guerra Está em Nós

Nos últimos tempos parece que o nosso mundo está num turbilhão constante. 
Quando antes víamos nos canais de televisão o alerta "ÚLTIMA HORA" à partida sabíamos que este daria a notícia de um acidente ou de mudanças políticas inesperadas. Agora, tristemente, o meu primeiro pensamento quando vejo as mesmas palavras no ecrã vai para um ataque terrorista, um assassinato em massa. Enfim... Morte. Pura e dura, causada intencionalmente por um ser humano a outro.

Os acontecimentos das últimas semanas fazem-me reflectir... Caramba, se formos um ser humano minimamente consciente e interessado pelo mundo ao nosso redor, temos de pensar em tudo aquilo que se passa, por muito mais fácil que fosse não o fazer.

A questão para mim já não é o que leva a alguém matar outra pessoa. Aquilo que me corrói a cabeça é pensar quantas pessoas ficam cá, neste mundo, sem aquele amigo ou familiar que morreu sem nada fazer para provocar essa morte. Morreu porque estava no local errado, à hora errada. Morreu por viver naquela cidade e naquele país. Morreu porque decidiu assistir a uma festa, ver fogo de artifício, comer naquele restaurante específico... Morreu porque apenas estava a cumprir a sua rotina. Morreu porque... morreu. Porque, na verdade, nada pode justificar a morte de uma pessoa num atentado.

O que sente ou pensa a mãe ou um pai de quem perde, assim, de forma bárbara, o seu filho? O que sente ou pensa um amigo que fica assim sem o seu companheiro? O que sente ou pensa o marido que fica despojado da sua mulher, ou vice-versa? Não consigo sequer imaginar o que seja isso. Como se faz o luto? Como se segue em frente? Como não odiar o outro?

Durante estas semanas muito se disse sobre o que aconteceu, em Nice ou em Munique, por exemplo. Mas houve alguém que escolheu uma citação, da qual já não me recordo de quem é, mas que explicava de forma simples e concisa o que se está a passar. Já não sei as palavras certas, mas era qualquer coisa do tipo "se queres paz, constrói o amor". 

E é verdade. 
Esta é a mais pura das verdades. 

Só quem está isolado pode atentar contra a vida de alguém. Vejamos, só quem está sozinho, só quem não
consegue falar com o outro, só quem está fechado no seu mundo, pode criar em si a fantasia de que matar é a forma de perseguir um ideal, ou, pior do que isso, de se fazer notar no mundo. Só quem está só pode pensar que tirar a vida a alguém pode ser a solução para o seu conflito interno. Sim. Porque se alguém quer matar, esse alguém só pode viver um conflito dentro de si mesmo que o consome de tal maneira que o impede de pensar com clareza. Que o impede de sentir algo que não seja a vingança ou o ódio.

Construir o amor está em simples gestos. Aqui deixo de fora as responsabilidades políticas que qualquer
governo tem. Aqui quero falar nas coisas mais simples que qualquer um poderia e deveria fazer. Por isso, construir esse amor está em cada um de nós. É falar com quem está ao nosso lado. É mostrar que podemos amar a todos. É construir comunidade. A dura realidade é que ao longo dos anos fomos perdendo isso. Fomos perdendo essa noção do que é estar próximo do outro, do que é estar próximo do vizinho, do que é estar próximo do nosso próximo.

Quando digo isto não falo apenas da necessidade de estar perto de imigrantes ou de filhos de imigrantes, tal como se ouve tanto nas últimas semanas. Falo, também, de estar perto das crianças e dos mais jovens que se isolam, cada vez mais, em frente ao computador, que se escondem atrás de um monitor e de um teclado, daqueles que têm no telemóvel o seu maior amigo. Por várias vezes já li sobre o paradoxo que é a sociedade em que vivemos: quanto maior é o acesso a mais informação/conhecimento, mais fechados nos tornamos. 

Do meu ponto de vista, começamos a ver o resultado prática de várias atitudes que passar a fazer parte da normalidade da nossa vida. Por exemplo, darmos o telefone ao nosso filho para jogar, porque só assim ele está calado e se sabe comportar... De comprar uma consola para que a criança possa jogar em casa, descansada, sem se andar a arranhar na rua com as quedas que vai dar por estar a jogar à bola com os amigos.

Se não demonstrarmos o que é estar próximo do outro, como é que esse outro sabe o que é viver em conjunto? Como é que vai saber o que é estar em comunidade, se nunca esteve integrado numa? Como é que sabe o que é viver em sociedade, se não faz ideia do que é isso? Como vai saber amar, preservando a sua identidade, se nunca foi ou nunca se sentiu amado?

O mundo anda ao contrário. Com o passar dos anos poderíamos progredir, crescer. Ao invés, estamos mais tacanhos, diminuímos de tamanho, porque não sabemos construir o amor... 

Por isso, perpetuamos a guerra. Seja a guerra que cada um combate consigo mesmo, seja a guerra com os outros à nossa volta, seja a guerra incutida por lunáticos, seja a guerra incutida por falsos ideais. E essa guerra está cada vez mais à nossa porta.

"No water can cool this fire,
Only the lord can save us.
I cry for peace (peace) in this neighborhood
(in this neighborhood).

I take a look inside and this is what I see:
Faith can move mountains, only love can set us free.
I take a look inside and this is what I see:
We need more love,
We need more love in this community.

Peace, perfect peace
I cried for peace in this neighborhood.
Oh, love, oh, love, perfect love
I cried for love in this neighborhood."

in Peace, Perfect Peace by Toots & The Maytals

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