Reféns de Si Mesmos

A forma como comunicamos com os outros diz muito de nós mesmos. Por vezes, pode até ser uma maneira de nos descobrirmos. E aí podemos encontrar boas ou más características. Depois, temos de lidar com elas.

Perante uma situação em que alguém precisa de nós, é na forma como falamos em que se pode denotar se estamos ou não à vontade com o outro, se gostamos ou não do outro, se somos ou não sinceros. É certo que podemos sempre mentir, mas ou temos um grande auto controlo ou então é fácil de perceber que não estamos a ser verdadeiros. Essa verdade, em certas alturas, vem ao de  cima pela nossa postura, pela forma como sorrimos ou por um outro “tique” qualquer que tenhamos e que só nós ou alguém que nos conhece muito bem consegue identificar. Por isso, podemos ouvir tantas vezes aquelas frases feitas, como por exemplo, “tu a mim não me enganas”, “não tens jeito nenhum para mentir” ou “não estás a dizer tudo. O que se passa?”. 

Também é nestas pequenas coisas em que nos podemos aperceber da nossa solidão. Se não formos próximos de ninguém, então não haverá qualquer pessoa que nos diga uma das frases mencionadas acima. E, isso, é  no mínimo estranho. Seremos capazes de nos escondermos de todos, durante toda a vida?

É um caminho duro, com toda a certeza. É sinal, como disse, de que estamos verdadeiramente sozinhos. É neste momento em que acontece aquilo que muitas vezes não nos apercebemos: não conhecemos quem está ao nosso lado. Podemos falar com essa pessoa todos os dias, mas nunca a chegamos a conhecer em pleno. Perante esta situação a reacção imediata é pensar que estamos a lidar com quem não é verdadeiro. Estamos a conviver com uma pessoa que mente sobre si própria... com uma pessoa que não é sincera... com alguém que não é honesta. Haverá algo mais vil neste mundo do que uma pessoa que é desonesta? A moral, os costumes e a nossa boa imagem perante a humanidade, tudo isso, nos leva  a ser peremptórios: é claro que  não. A desonestidade é totalmente repreensível e um flagelo.

No entanto, devemos também questionar-mo-nos qual poderá ser a razão deste tipo de comportamento. Porque é que existirão pessoas assim? Que se encolhem, que se protegem em si mesmas e se fecham aos outros? 

Ninguém é assim, porque lhes apetece. Há sempre algo por detrás de uma postura que é diferente. O acto de julgar é inerente ao ser humano, mas antes de o fazermos deveríamos pensar mais no que é que leva pessoa A a tomar uma atitude C. 

Assim sendo,  o que  mais me parece plausível é que aqueles que não se conseguem “dar” aos outros encontraram aí a sua protecção. Encontraram aí um refúgio para que não se magoem. Acredito que  eles têm consciência de que não são verdadeiros com os outros, mas estão cheios de nódoas negras. Estão cansados de ser pisados. E esse tipo de marcas não desaparece como as marcas físicas. Algumas delas ficaram para sempre naquilo que eles são. E é pelo facto de não se conseguirem distanciar delas que os torna reféns de si mesmos. E isso também significa sofrer. Creio que é necessário perceber que quem não se dá a conhecer em pleno sofre em cada dia por não o conseguir  fazer. E esses também merecem muito mais todo o nosso respeito do que "merecem" ser julgados pela sua atitude.

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