O Sonho Desenhado Pela Imaginação

Fechou os olhos. Num ápice fechou os olhos porque não queria estar ali. Era a única forma de estar noutro lugar, de sentir que tudo era diferente.

"Ao início tudo era negro. Porém, no meio da escuridão começou a surgir uma imagem. Era o mar. Como era azul aquele mar. E calmo... Apenas umas ondas muito l
eves, faziam com que aquele imenso azul se movesse. Devagar e ternamente. Como era bonito aquele local. Agora Teresa já lá estava. Com um chapéu de palha, uns óculos de sol, com o seu cabelo castanho solto e ao vento. Tinha uma saia comprida, muito fresca e uma camisola de alças. Estava descalça para sentir a areia nos seus pés. As sandálias estavam na mão, ao mesmo tempo que se virava para aquele mar. 
Alguém a chamava. 
Era ele. Naquele momento em que se virava em direcção à voz que pronunciava o seu nome, reparava como ele estava bonito. O cabelo loiro, de olhos da cor que se confundia com aquele mar. O seu amor. O seu singelo, duro e forte amor. Ele era seu, fazia parte de si e estava sempre consigo. Aproximou-se dele, passou a sua mão pela sua barba e deu-lhe um beijo. Sorriram. Olharam em volta e estavam sozinhos. O sol começava a desaparecer no horizonte. Encontraram de novo o olhar um no outro. E ali ficaram. Fizeram amor. Sentiram-se por completo. Sem vergonhas e sem pudores. Completamente sós, apenas Teresa e ele. Vestiram-se rapidamente e deixaram-se estar deitados na praia. Adormeceram abraçados.
Quando acordaram já não estavam na praia, mas sim na sua casa. 
Eram mais velhos, mas continuavam a dar um beijo assim que despertavam. Passaram vários anos e têm a cara marcada com a sua vivência. As rugas são o sinal de que passou muito tempo desde que estão juntos. Saíram do quarto e abriram a porta. É filho deles, que traz como companhia o neto. Passaram a dia juntos, enquanto o filho foi trabalhar. Mas as visitas não ficam por aqui. Como se fosse um ritual, aparecem todos os seus filhos. O Ricardo, o Pedro e a Ana. Ficaram juntos até altas horas da noite. 
Estão cansados... Já não têm tanta energia como antes. Teresa sustém o olhar no marido por uns instantes. Já não tem a mesma jovialidade, sem dúvida. Mas permanece com um sorriso naquele olhar azul onde Teresa ainda se perde. Ele sabe o que Teresa está a fazer. Chega perto dela, dá-lhe a mão e deixa um beijo na sua face. Sentam-se no sofá da sala, ele abraça-a e ela coloca a cabeça no seu ombro".

- Teresa, acorda!!! O que raio te deu??
Meio estremunhada, Teresa diz entre dentes:
- Que é que se passa?
- O que é que se passa?! Levanta-te já! Disse-te para ires fazer o jantar e arrumar a casa. Ele está a chegar e tens de te apressares! Não é para dormires em cima da mesa!

Teresa percebeu que era a sua mãe que lhe gritava aos ouvidos... E tinha razão. Ela tinha adormecido sem dar conta. Pelo menos tinha sonhado. Como ela gostava de sonhar. Era tão feliz quando o fazia. Só por isso tinha valido a pena. No sonho ela podia ser outra pessoa e ter aquilo que nunca tinha alcançado em quarenta anos.

Agora só tinha de voltar a esconder no seu coração mais este sonho desenhado pela sua imaginação. Guardá-lo como se fosse uma lembrança... Como Teresa gostaria que fosse uma verdadeira lembrança. Ela sabia que se assim fosse, era sinal de que tinha vivido aquilo na realidade. Mas não. Era um sonho. Mais um que agora era fechado a sete chaves, como sua pertença e em segredo. Um segredo que não contaria a ninguém. Era um sonho seu. Que podia sempre ir buscá-lo para não se sentir tão sozinha.

Teresa levantou-se e começou a tratar da ordem da casa, tal como sempre fazia e como sempre tinha feito ao longo da sua existência.

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