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A mostrar mensagens de janeiro, 2011

Por Breves Instantes

Por breves instantes damos um abraço, um beijo, uma lágrima, um aperto. Enquanto se bebe um copo, uma criança morre, uma criança nasce, um homem melhora e um homem piora. Por pequenos instantes somos felizes, e somos também infelizes. Sorrimos por pouco, choramos por muito. Queremos seguir em frente, fartos da nossa rotina. Mas também sentimos saudades, nostalgia dos bons momentos que vivemos nela. Por breves momentos sofremos, traímos, rejubilamos. O ser humano rege-se por planos. Planeamos o futuro com uma agenda, cada coisa em cada hora. Em breves segundos alteramos encontros, desmarcamos trabalho. Sabemos o que está certo ou depressa descobrimos que afinal errámos. Em breves instantes o que conhecemos, o que planeamos, o que sonhamos deixa de fazer sentido. Arrepende-mo-nos das nossas decisões, desejando voltar atrás no tempo. Por breves minutos conhecemos alguém, mas deixamos de conhecer aqueles que já conhecíamos. Por breves instantes temos, mas também deixamos de ...

Entrevista a um hipotético jornalista

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Há pouco tempo decidi entrevistar um jornalista. Chama-se Luís e já tem vinte e cinco anos de profissão. Trabalhou em diversos jornais e conseguiu enveredar pelo jornalismo televisivo. Nunca se tinha visto a trabalhar atrás das câmaras, mas decidiu arriscar. Não é aquilo de que mais gosta de fazer e vive com o desejo de regressar aos tempos do jornais. Aos tempos em que existiam mais do que três jornais culturais e os suplementos sobre arte e música multiplicavam-se nos diários e semanários.  - Nos anos 80 e início dos anos 90 foram prósperos em publicações jornalísticas. Sente falta desses tempos? Desejo todos os dias que o tempo volte atrás. Regressar à época da imprensa escrita e poder escolher em qual jornal gostava de trabalhar era o que mais gostava de fazer agora. Estar em televisão faz-nos conhecer pessoas estranhas. Para além disso, adorava voltar ao jornalismo cultural, aquele que não estava entregue a uma elite. - Mas acredita que actualmente o jornalismo cul...

A ignorância é sagrada

Os cínicos, os hipócritas e os mentirosos enchem este mundo. Sai daqui, sarna nojenta que não me largas o pé. Esse teu nojo cobre-me dos pés à cabeça e eu não consigo afastar a minha repulsa daqueles que me comem os princípios. Aqueles que deitam a baixo aquela coisa à qual damos o nome de moral . Tenho nojo de todos vocês! Vomito. Inundo o chão daquilo que sou. São como lama que se agarra à minha roupa. Sinto o vosso odor na minha pele. Esse cheiro fétido que me preenche e do qual não me consigo livrar. A culpa é tua e só tua. Por tudo aquilo em que me fizeste acreditar. Por me teres manipulado tão subitamente, tão suavemente, tão carinhosamente. A ilusão e a mentira. Quero-as de volta. A ignorância é sagrada. É aquilo que nos faz sorrir. Desprezo. Tristeza. Horror. Medo. Saiam! Saiam daqui, seus porcos imundos que me perseguem! O que querem de mim? Que seja como vós... um animal amestrado. Uma máquina. Uma simples escrava dos vossos desejos. Não sinto nada. O que é...

Conversas com um hipotético Jornalista

"A redacção está cheia. Há papéis a voar sobre as cabeças de quem trabalha. Phones nos ouvidos de quem tenta descortinar uma palavra dita por um político numa grande entrevista. Olhos especados num computador, a caneta na mão escreve informações importantes sobre o desemprego em Portugal. Um grupo de três pessoas está descontraidamente a trocar dois dedos de conversa e a saborear um café a meio da tarde. O editor está ocupado a explicar aos estagiários como deve ser feito o trabalho. E mesmo no centro da sala, na sua secretária, ali está ele. Tira os óculos. Pousa-os na sua mesa, esfrega os olhos. Mantêm-os fechados durante segundos. Para ele pareceu-lhe uma eternidade. Sem pensar em nada. Volta a abri-los. Novamente a pergunta: "mas que título ponho eu a isto?!". A voz do editor chama-o à realidade. Um novo trabalho espera por ele. Sai de apressadamente, enfia-se no carro e vai até ao local da conferência. Ouve com atenção. Tenta ler o que está por detrás do qu...