Coisas que não mudam

A chuva cai e quase faz parar a vida normal de uma cidade. Os carros amontoam-se na estrada e o visor está completamente tapado. As pessoas querem andar mais rápido, chegar a horas aos encontros, ultrapassar o trânsito causado por um jogo de futebol.

O granizo não olha a meios e bate com força em tudo o que é sítio. O seu barulho é incomodativo e parece que as grandes pedras nos vão acertar. Queremos parar, mas continuamos. Lembro-me repentinamente que a vida é assim: tantos obstáculos que quase nos obrigam a desistir, mas, depois, percebemos que maior do que isso é a nossa força de vontade. Mas agora, só queremos beber um café.

Ao longo do caminho parece que o tempo já está a melhorar. Sem darmos por ela ouvimos de novo as pedras de gelo a bater no carro. "Quando será que isto acaba?!", penso eu. Até o tempo está incerto. Mas num segundo, o meu pensamento volta atrás: "de que estou a queixar-me? Há coisas bem piores..." Mas nem quero pensar nas imagens da Madeira, que nos são postas em frente dos olhos todo o dia. Como foi e sempre será, não quero nem pensar como seria se fosse comigo. É esse o maior problema de todos: nunca nos equacionamos: "e se fosse comigo?".

Finalmente conseguimos chegar ao café. À primeira vista, parece que estamos no centro da cidade moderna, mas no seio do séc. XIX. O aspecto antigo do meio envolvente provoca uma contradição no meu pensamento. Mas assim que entramos há algo que nos remete para a essência do espaço exterior. Apesar dos móveis modernos e confortáveis, do grande plasma e do serviço wireless, há um elemento que me contextualiza: o empregado de mesa. A sua idade é mais avançada do que todos os outros... Personifica a coexistência entre estes dois tempos: o antigo e o moderno.

As conversas que se ouvem não são iguais.... Como poderiam sê-lo, se estamos noutro tempo, noutra época? Mas há algo que não muda: a forma como nos relacionarmos uns com os outros. Por mais que se inventem telemóveis, por mais que a internet seja mais veloz, por mais que usemos as webcams, nada se sobrepõe à presença física do outro. Aqui está algo que, por mais modernices que haja, não vai mudar: estar com o outro.

Aquele café... De facto, é uma modernice, mas que não esquece o passado.

Comentários

  1. Por isso é que quando ficamos 3 dias sem nos vermos fico com saudades. Não tecnologia que se sobreponha ao 'prazer' de estar contigo!

    beijo*

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  2. Gostei das aspas no prazer eheh
    sem dúvida que é verdade o que dizes!
    beijinhos*

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