A invisibilidade de Camila
O céu estava escuro, mas ela decidiu sair de casa na mesma. Queria poder sentir o vento fresco a bater-lhe na cara. Ao menos isso ela podia fazer sem pedir autorização a ninguém, sem ter em conta o que quer que fosse. Àquela hora, no final da tarde, as ruas estavam cheias. A maioria das pessoas regressava do trabalho ou da escola o que tornava ainda mais fácil, Camila passar despercebida entre todos. Muitas vezes ela tinha a sensação de que podia chorar, rir sozinha e até cantar baixinho sem ninguém dar conta. Era verão, por isso, ainda não tinha anoitecido. Fechou os olhos enquanto andava calmamente. Ouvia risos, gritos, conversas, palavras soltas... A agitação habitual no fim de mais uma jornada. Hoje, Camila estava particularmente cansada. Ainda não sabia para o que servia ao certo. Era muito possível ela não servir para grande coisa. Ela gostava de ser tudo aquilo que não era, por isso sonhava. Sonhava... E, naquela calçada, ela já estava a sonhar. Esta era uma...