Boa Sorte, Menina
O cansaço das pernas fazia-me andar mais devagar do que devia. Mas, naquela altura do percurso fico sempre cansada e as pernas pesam-me, o que me faz não querer saber se levo mais dez minutos a chegar a casa. Vejo, no meio da rua, um homem que cambaleia. Bem sei o que é. É fim de tarde, por aquelas ruas há alguns cafés e é mais do que comum que alguns comecem a cambalear pela rua inebriados pelo álcool. Alguns falam alto, outros não dizem nada. Hoje, a rua só o tinha a ele. Parece-me velho, o cabelo é branco, magro e veste um fato, já com a gravata meio solta. Este tipo de coisa já não me surpreende ou amedronta. Assim que me aproximo oiço-o a fazer um barulho estranho, como se estivesse a chamar alguém, mas não era bem um nome, parecia um autêntico grunho. Não liguei nenhuma. Assim que passo por este homem oiço "Boa Sorte, Menina" e outra vez aquele grunho. Nem sequer virei a cara na sua direção. É verdade. Poderia ter-lhe agradecido ou ter feito um simples gesto com a mão...