A Trautear num Café
O barulho é ensurdecedor. Mas naquele café com tão pouca gente as vozes desesperadas que vêm da televisão preenchem o espaço. Talvez seja, precisamente, pelas poucas pessoas que ali estão, que tudo pareça ainda mais caótico. A cacofonia que daí advém não me deixa retirar os olhos daquilo que me mostram: mortes, prisões, perseguições, fome, desespero. Pelos minutos que ali levo, a tentar distrair-me da minha própria dor, estou a beber de tudo aquilo que se passa fora de mim, da minha realidade, do meu cubículo. Sem aviso prévio, alguém muda de canal para algo completamente diferente, e, aí o barulho é outro. É também uma cacofonia, mas é outro barulho: agora são três pessoas a gritar umas com as outras sobre um assunto qualquer supérfluo... Ah... Isto é que devem ser os tais que opinam sobre tudo e sobre nada sem saberem do que é que estão a falar. Suspiro. As minhas mãos circundam a chávena de chá. Se aqui não consigo descansar a cabeça, ao menos que consiga aquecer as...