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A mostrar mensagens de fevereiro, 2020

"You Give Me Something" - Na Terra Árida IV

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Não consigo parar de rir. Há quem diga que é dos nervos e, talvez, tenham razão. Mas não poderia adivinhar que íamos estar os dois estatelados no chão. Ainda bem que o colchão nos amparou. J está em silêncio com aquele ar de quem tenta processar o que aconteceu. O seu silêncio faz-me acreditar que realmente ele está surpreendido. Porém, eu não consigo estar séria, mesmo que entenda que para ele é como se tudo o que tivesse construído caísse por terra. A peças da cama circundam-nos, o pó da madeira circula pelo ar. Finalmente, viro a minha cabeça na direção do meu homem. - Ei... - digo, docemente - Não tem problema. J vira a sua face e fica a olhar para mim. A sua expressão continua séria, surpreendida é certo, mas é também séria. Não sei o que lhe passa pela cabeça. Ele maneia a cabeça e senta-se no colchão, agora no chão. - Podemos sempre dormir aqui? - digo ao sentar-me, imitando a sua posição. - Não acredito... Como é que isto aconteceu? Eu vi tudo o que me diss...

Angustiante Reajuste à Realidade

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Os braços que me circundam provocam em mim um sentimento de segurança que nunca tive. Que sensação é esta de estar numa outra vida onde não há passado nem futuro? Só o presente. Que bela sensação libertadora, como se fosse eu. Ali. Verdadeiramente com aquele homem que me proporciona uma sensação de plenitude, à beira de um estonteante mar azul banhado pelo sol. De repente, os mesmo braços que me seguram, deitam-me para o chão. A força com que caio faz-me perder os sentidos. Já não sei onde estou. O mar já não está lá, muito menos o sol. É tudo escuro, o chão é feito de uma pedra que nunca antes tinha visto. Uma pedra pontiaguda, que me fere as costas.  O que se passou de um momento para o outro? As mesmas mãos que há pouco me seguravam, arrancam de mim tudo aquilo que eu tenho. Grito desesperadamente. Porque é que essas mesmas mãos esfolam a minha pele? Porque me arrancam impiedosamente o meu coração? A dor que sinto é incontrolável, mas mesmo assim, não morro. E tudo...

A Jarra Rachada

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Cheguei a sonhar como todas as outras. Sonhar que um dia iria ser livre, que alguém me iria pegar e levar-me daqui para um local belo, airoso e perto de um grande mar azul onde pudesse senti-lo todos os dias. Eventualmente, os anos foram passando. Consegui ver todas aquelas que à minha volta eram sãs a serem levadas, todas elas com feições distintas, alegres, como se soubessem que, finalmente, iriam para um lugar bem melhor e, acima de tudo, não mais estariam sozinhas. Iriam fazer parte de uma nova história. Fui vendo-as a ir e ficava tão contente. Era assim que tinha de ser, elas tinham nascido para isso. Apesar de desde cedo sonhar como elas, eu sou diferente. A minha luz não é nítida, a minha cor tem falhas e, sobretudo, são muitos os indícios de que estou prestes a rachar. Sou tudo o que as outras jarras não são. Todas elas são belas, altivas, brilham no escuro e estão perfeitas, fortes, sem nada que faça adivinhar que se podem partir. O meu lugar é nesta estante. Colo...