A Flor à Beira da Estrada

É um toque suave... Tão suave, quase que passa despercebido. Mas, para ela não. Ela sente aquele toque como se fosse o mais sentido de todo o mundo. Como se fosse o mais expressivo de todo o mundo. Como se todo o mundo estivesse ali, naquele tão simples toque. Como se ele tocasse num piano, ao de leve, sem pressas nem pesado.

E ela quer prolongar essa sensação. Ai! Como ela quer prolongá-lo. Como se nada mais importasse sem ser aquele gesto, aquele gesto que, para si, traz o melhor sentimento: o de proteção. Ela fecha os olhos, por breves segundos, como se, assim, pudesse gravar ainda melhor aquele momento na sua mente, pois ela sabe que ele a acompanhará por todo o sempre. E o sempre parece tão longínquo. Tão longínquo, mas, agora, com razão para ser vivido. Como se todo esse tempo que lhe resta, ganhasse um novo propósito: o de relembrar aquele toque. Aquele toque que provém daquela mão que já está no seu coração. 

Ela nunca tinha tido essa experiência. Essa experiência de ser tocada daquela forma tão descontraída, como se fosse natural alguém lhe fazer aquilo. Como se fosse normal. E ela não está habituada a ser normal. Ela não está habituada sequer a ser olhada de forma normal, quanto mais alguém a se predispôr a tocá-la desta forma. 

E ela quer sorrir-lhe, como ela lhe quer sorrir... Ela quer mostrar como ela ficou feliz por sentir aquele toque quente dos seus dedos. Ela quer dizer-lhe obrigada por isso. Por ele ter tido a coragem de se aproximar. De se aninhar ao seu lado. De olhar para ela com atenção e de a ter tocado. Ela quer mesmo mostrar-lhe que ele lhe deu o melhor da sua vida. Porém, tristemente, não o consegue fazer. Ela não consegue exprimir como se sente lisonjeada, nem que ele esteja com ela alguns segundos.

Mas ela não consegue. Ela tenta, tenta parecer diferente, mão é capaz.

E, aí, fica a olhá-lo fixamente, com a sua cor triste e aspeto desajeitado, começando a encher-se de
vergonha por não conseguir ser viçosa como todas as outras. Porém, ela sabe que isso não é algo que acontece em segundos. Isso só acontece se se nasce com essas cores maravilhosas. É esse não é o caso dela... Nunca o foi.

De repente, ele levanta-se e deixa-a estar, assim, na beira da estrada, onde ela sempre tinha estado. Ele vai-se embora e ela fica ali, apenas e só, a observá-lo. A agradecer a quem quer que seja por lhe ter dado a oportunidade de ser tocada daquela forma. De alguém lhe ter tocado nas pétalas. Assim... Tão simples, carinhoso e tão belo. Algo que ela nunca tinha conhecido, já que nunca ninguém a tinha olhado daquela forma tão especial. É ali, na beira daquela estrada que ela vai continuar, sozinha e sem cor, à espera do fim, lembrando vezes sem conta aquele toque quente e sentido.

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