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A mostrar mensagens de 2019

O Homem que Não Bebe Café

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O cheiro forte entra nas narinas e não sai mais. A. não entende como é possível que este seja o pretexto para as pessoas se verem. Porque raio faria sentido dois ou mais indivíduos se encontrarem com a desculpa de beberem um café? Porque tinha de ser café? "Os amigos deveriam encontrar-se para beber uma outra coisa... Um chá, uma água, um sumo, uma cerveja... Sim. As pessoas encontrar-se-iam para beber uma cerveja. Agora, café?" , pensava A. sentado numa das cadeiras que circundava a mesa do canto do café. "Ainda por cima dizem que é amargo... E o barulho que a máquina faz a trabalhar! Aquela água castanha, com espuma fininha a cobrir o líquido... " No entanto, A. não pensava que isso era estranho ou esquisito. A composição visual do café era normal, nem feia nem bonita. A chávena também não lhe fazia impressão, muito embora não lhe fizesse sentido que aquela quantidade mínima de líquido num objecto tão pequeno pudesse ser a salvação de alguém

Um Encontro Pouco Casual

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A meia luz da sala dá a sensação de que está sozinha. Como em tantas outras situações isso não a preocupa. Afinal sempre foi assim. L. pega no copo que está meio vazio e leva a cerveja à boca. Há poucas coisas que conseguem saber-lhe tão bem quanto uma cerveja a meio da noite. L. quase que termina o copo quando decide que ainda quer ali estar mais um pouco a bebericar o resto da cerveja. Pelo menos até ele regressar à sala.  Ela só o quer ver como se fosse a última vez. Será, concerteza, a última vez. Depois, não valerá a pena prolongar seja o que for. Com um ar descontraído ele entra na sala. L. nota como ele traz aquele semblante despreocupado, como se nada se passasse. Na realidade, nada ainda se passou. Mas, L. sabe que tudo vai acontecer no escasso tempo que estiverem juntos. L. não pode perder esta oportunidade. Esta é a oportunidade de se sentir viva e se não for com C., não será com mais ninguém. Os seus olhares encontram-se mesmo com a pouca iluminação existen

A Razão Sem Razão

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Há quem diga que sou muito racional. Penso em demasia nas coisas. Talvez seja verdade... Até porque sei bem como escondo o meu lado mais sensível, deixando-o mais para a escrita. Uma das evidências em como este lado racional está sempre ativo é a necessidade que tenho em encontrar uma resposta para tudo o que me acontece.  Encontrar uma razão para tudo. Porque é que as coisas acontecem de uma maneira e não de outra? Porque razão é que isto ou aquilo tinha de se passar? O que é que justifica que isto ou aquilo me tenha acontecido? Por vezes, são questões que andam à roda na minha cabeça.  É verdade que as razões que justificam algum acontecimento, apenas aparecem algum ou muito tempo depois do efectivo acontecimento. É assim. Só mais tarde é que parece que tudo ganha sentido.  Quem é que nunca passou por esse tipo situações? Mas e se não for sempre assim? E se passarmos por determinado tipo de experiência e não conseguirmos perceber o porquê nem hoj

Imaginação À Chuva

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A chuva que cai incessantemente no seu casaco fá-la lembrar que tem de acelerar o passo. Por vontade dela, ela iria ao seu ritmo, devagar, sem se importar com o tempo, o frio e a chuva. Apenas não quer ficar doente, não lhe dá jeito nenhum. Afinal, ela detesta que alguém repare nela, ainda pra mais se for por estar com o pingo no nariz. Mesmo assim, nem o vento lhe dá a vontade necessária para chegar rápido a casa. Então, ela apenas usa a sua imaginação. Andando nas ruas escuras, a desviar-se das poças de água que estão em todo o lado, alguém a chama. Mas ela não presta atenção. Seria impossível alguém reconhecê-la, o capuz que usa é perfeito para a tornar um completa desconhecida.  Não é para mim , ela pensa. Por isso, nem olha. Mas, aquela voz continua a chamá-la e agora ouve passos rápidos. Alguém está a correr atrás de si. Deus. Como é que alguém poderá saber que é ela no meio daquela escuridão? Ela vira-se de repente e para.  É ele. É ele que está ali...

Toma-me

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Toma-me. Toma-me nos teus braços e tem-me, assim completa e irracionalmente, como se conseguíssemos ser apenas dois corpos com vontade de se terem. Sem amarras nem responsabilidade. Sem ânsias nem arrependimentos. Toma-me como se eu fosse o teu bem mais precioso, como se nada mais te importasse no mundo, pelo menos enquanto estivermos juntos naquilo que mais puro e físico conseguirmos. Toma-me de forma pura e crua, como se apenas quiséssemos viver aquilo que o nosso corpo nos pede, não a cabeça nem o coração. Toma-me da maneira que o meu corpo me pede que tu tomes, porque só tu me podes tomar dessa forma. Toma-me sem pudor, sem medo nem reservar, como se tivesses nascido para isso. Como se estivesses a cumprir um desígnio, como se estivesses a cumprir a missão para a qual nasceste. Toma-me sem vergonha do que quer que seja, com toda a tua sinceridade de gestos, de presença, de crença. Toma-me com honestidade. Assim, duramente, sem medo de te magoares, de me magoa

Dá-me um Beijo

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Dá-me um beijo.  Dá-me um beijo quente, que me envolva naquilo que tu és, nas tuas mãos que me percorrem corpo, como se soubessem exactamente por onde têm de ir, onde têm de passar, onde têm de ficar. Dá-me um beijo como se quisesses apagar a minha memória. Como se quisesses apagar aquilo que fui, aquilo que sou, aquilo que serei. Dá-me um beijo que me faça sair de mim, como se não fosse eu... Que me fizesse esquecer onde estive, onde estou e onde estarei. Dá-me um beijo que me faça sentir viva. Tal e qual como aquele que trocámos entre as nossas sombras, como se fôssemos um só. Como se nada mais houvesse entre nós naquele milionésimo de segundo. Dá-me um beijo que me devolva aquilo que é viver. Aquilo que é viver em permanente sobressalto onde a nossa pele é sempre superior à nossa cabeça e ao nosso coração. Que me devolva aquilo que é viver intensa e plenamente sem barreiras, sem valores e sem princípios. Dá-me um beijo que me faça sentir livre, onde não haja a

Grazie, Gigi Buffon

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"There is a burning inside you that will lead you to make mistakes. Of course, you think that you are showing your teammates that you’re strong and free, but in reality, this is a mask that you wear."  Às vezes penso que emocionar-me é uma merda. É uma merda porque em algumas dessas ocasiões também me faz sentir uma merda. Seja por aquilo que leio, seja por aquilo com que me identifico quando estou a ler, seja porque desperta no meu inconsciente algo que me faz experienciar um sentimento forte. Quando vi hoje de manhã uma notícia que dizia que Buffon confessa que esteve deprimido apressei-me a ler o texto escrito pelo guarda-redes italiano em primeira mão, publicada no The Player's Tribune. Chorei. Não pelo facto de estar a ler um testemunho tão pessoal, que mostrava que um dos desportistas que mais admiro no mundo teve depressão. Chorei, essencialmente, por ter a constatação de que todos nós sofremos. Independentemente de pensarmos que ninguém o

A Dor da tua Ausência

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"Take away my pain, help me forget it all"  Páro o que estou a fazer. Será que isso existe mesmo? É possível termos alguém que nos tire a dor? Que nos faça esquecer tudo? Não sei. Nunca o experienciei. Mas, agora, parando para pensar nisso... Será mesmo possível que isso exista? Alguém que com apenas a sua presença nos tire a tristeza, nos dê alento e que nos faça sentir que podemos apagar por momentos tudo aquilo que nos faz sofrer? Se isso for verdade, essa deve ser a verdadeira definição do amor.  Sento-me na cama e fecho os olhos. A música continua a tocar e eu, por breves instantes, atrevo-me a imaginar o que é isso de termos alguém que nos tire a dor. Tristemente, não o consigo alcançar. Realmente, não consigo imaginar isso... Não consigo imaginar que alguém me tire esta dor de existir. No entanto, choro. Posso não ter a capacidade de criar no meu pensamento essas imagens de ter alguém que me tire a dor, mas não evito as lágrimas que me correm pelo rosto. Será que a min