Cartas a Marcelo Rebelo de Sousa
Nos últimos tempos, um dos assuntos mais falados nas redes sociais foi a carta aberta que Maria Barros, uma jovem estudante, escreveu ao presidente da República,
Marcelo Rebelo de Sousa. Na carta Maria Barros desabafa o seu drama:
não conseguiu entrar no curso universitário que tanto queria, medicina, por três décimas.
O assunto foi trazido pelos jornais e, como já se sabe, a Internet não perdoa. Foram muitos aqueles que se pronunciaram sobre este tema. Daquilo que li a única pergunta que me fica é: qual a importância real deste assunto para o dar a conhecer a Marcelo Rebelo de Sousa?
Maria Barros diz que apenas quis desabafar a sua tristeza, por não conseguir estudar no seu país, devido às elevadas médias que os cursos de medicina apresentam ano após ano. Maria Barros apenas queria continuar em Portugal, ter a melhor formação para conseguir alcançar o seu sonho, sem ficar longe da sua família. Porém, a sua nota de candidatura, de 17,3 valores, muito boa por sinal, não foi suficiente.
Depois da divulgação da carta pela revista Visão, no dia seguinte Maria Barros esclareceu algumas questões a essa mesma publicação. Afinal está a aprender espanhol para, no próximo ano, também se candidatar a medicina em Espanha, além de voltar a tentar as universidades portuguesas.
Posto isto, vou começar
por dizer o seguinte: imaginem que todos os alunos que não conseguissem
entrar para o curso que mais querem, seja por décimas, ou não,
enviassem uma carta a Marcelo Rebelo de Sousa? Eu sei que ele parece ser simpático e muito amigo do português, mas o homem tem mais que fazer do que estar a ler milhares de cartas, não?
Confesso que este é um assunto que me dá para rir. Fiquei bem disposta quando me dei conta do ridículo que para aqui vai. Alguém deveria ter explicado à menina Maria Barros que a vida é mesmo assim, e que ela não foi a única a não ingressar no curso que mais queria apenas por décimas. As contas são assim, as médias são assim, o acesso ao ensino universitário é assim em Portugal. Ponto.
Enquanto não existir uma mudança real no acesso ao ensino superior, quem quiser ingressar nele tem de cumprir essas regras. Se é chato não entrar? É. Mas não foi só chato para ela. Foi também chato para todos aqueles aos quais lhe aconteceu o mesmo. A única diferença é que esses não enviaram uma carta ao presidente da República. E sabem porquê? Porque isso é inútil. É inútil porque Marcelo nada pode fazer em relação a isso.
A vida é injusta, mas temos de a contornar. Se não conseguiste a melhor nota para ingressar no curso que queres, estuda mais. Aplica-te. Faz disciplinas. Tem a melhor nota que conseguires para chegar lá.
Todos aqueles que têm ou que tiveram de ficar mais um ano a melhorar notas para ingressar no ensino superior e que estão ou estiveram a dar o seu melhor: o meu reconhecimento. Precisamos de mais jovens assim: persistentes, exigentes e
resilientes. Não precisamos daqueles que vão fazer queixas daquilo que
lhes acontece ao presidente da República. Não. Precisamos é daqueles que
dão tudo pelos seus sonhos, sabendo que têm de contar apenas consigo e com as suas capacidades. Nada mais além disso.
Se
não tivermos a força suficiente para trabalhar pelos nossos objetivos,
bem podemos escrever cartas ao presidente da República, que ele nada vai
fazer. Não é Marcelo Rebelo de Sousa que nos vai dar a persistência e
força mental para sermos melhores naquilo que queremos. Não. Isso só nós o poderemos fazer.
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