Lê-me Um Poema

Lê-me um poema como se fosse o teu último e o meu primeiro
escrito que me alerta os sentidos e me queima a pele.

Lê-me um poema, assim, desprendido e inócuo
sem sentido e comedido.

Lê-me um poema com significado e encorpado,
entusiasmante e brilhante.

Lê-me um poema bonito que me encha de alegria
tonta por te ter do meu lado livre e libertino.

Lê-me um poema dessas tuas aventuras que não são as minhas,
guardadas no meu peito e desenhadas pelo meu pensamento,
mas nunca por mim vividas.

Lê-me um poema floreado, que mascare tudo aquilo que de cinzento
está à minha volta, à tua volta, à nossa volta.

Lê-me um poema disso: da realidade que nos consome
num diário apressado que se repete vezes sem conta,
às vezes vagarosamente repentino.

Lê-me um poema que me mostre aquilo que tens de mau,
o que tens de pior
esse pior que se confunde com aquilo que também eu sou.

Aquilo que também eu sou. 
Aquilo que tu és.

Lê-me um poema daquilo que tu és, na tua alteza indecifrável,
na tua pequenez disfarçada, 
nos teus feitos enaltecidos, 
nos teus fracassos escondidos. 

Só assim te poderei dizer que sou como tu.

Sou como tu na tua dor que nunca é esquecida, mas que anseia ser partilhada.
Uma dor que anseia ser partilhada da mesma forma que tu anseias em partilhá-la.

Partilha-a comigo nesse mesmo poema, que eu desejo que me leias.

Lê-me esse poema de palavras certas
e redondas que me vão fazê-las recordar para sempre,
assim como a tua imagem naquela tarde de primavera.

Lê-me um poema violento, que me revolva as entranhas
adormecidas, que me faça encostar a minha face no teu peito
para ouvir o teu coração a bater,
desenfreadamente primeiro, 
até que esse se torne numa leve brisa ao entardecer.

Lê-me um poema singelo, como todas as coisas bonitas da vida
Lê-me um poema denso, como todo o sofrimento que guardas dentro de ti.
Que eu guardo dentro de mim.

Lê-me um poema leve, como o sorriso que me mostras desde o primeiro dia
Lê-me um poema complexo, exactamente complexo como aquilo que escondes.
Como aquilo que também eu escondo.

Sim...
Lê-me um poema nesse teu sussurro que me arrepia a pele 
e me desvanece o pensamento de cada vez que os teus lábios me tocam...
de cada vez que os teus lábios me tocam de forma segura e arrebatadora,
de cada vez que os teus lábios me tocam sorrateiramente,
como se não quisessem ser claros quanto à sua presença,
quase como se apenas me estivessem a espreitar,
sem se fazerem notar.

Tal como agora.
Tal como agora, que me lês este poema ao meu ouvido,
como se fosse um segredo só nosso,
indivisível e único
na entoação que dás a cada uma das palavras,
fazendo-me crer que não sou mais humana,
mas um ser de um outro mundo que levita ao som daquilo que declamas.

Lê-me um poema de amor, que me faça morrer pot ti!
Lê-me um poema de amor, que me faça acreditar que também tu morrerás por mim.
Lê-me um poema de amor que nos mate com um tiro.
Lê-me um poema de amor, que nos faça unir até ao nosso último suspiro.

Comentários

  1. Gostei do poema. Sobretudo deste arrojo: "Lê-me um poema que me mostre aquilo que tens de mau,
    o que tens de pior
    esse pior que se confunde com aquilo que também eu sou"

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