As Cicatrizes das Consequências

Definitivamente tudo muda.
Esta é das poucas coisas que posso afirmar com convicção. Podemos fazer muitos planos, mas a verdade é que, de uma maneira ou de outra, o decurso da vida acaba por trazer mudanças com as quais não contávamos.

Pela rotina que está instalada no nosso quotidiano, as mudanças acontecem e nós nem damos por elas. E, isso, é estranho... Tudo o que está ao nosso redor muda: os lugares, o trabalho, as pessoas. E o mais impressionante é que não conseguimos identificar o momento dessa mudança. Quando percebemos que nada é igual ao que era, não conseguimos precisar e recuar até à situação em que essa mudança começou. Porque, sejamos sinceros, a mudança não acontece de um dia para o outro. Nós é que apenas podemos reparar nela de um dia para o outro. É como se estivéssemos num palco e, nas nossas costas, o cenário fosse sendo alterado. O pior é aquela sensação de nos virarmos e ver que tudo está diferente. É um contraste que também nos provoca a necessidade de mudarmos, de nos adaptarmos às novas circunstâncias e essa adaptação pode ou não ser dolorosa.

Acontece, por vezes, que essa mudança nos traga algo de novo, e que esse "algo" que seja bom. No entanto, nem sempre a nova realidade que nos é apresentada traz algo de bom. Muito pelo contrário. Pode ser daquelas mudanças que nos fazem chorar. Porque talvez essa seja uma das poucas formas de exteriorizarmos a nossa tristeza pelas coisas más que a mudança nos trouxe.

E, quando as mudanças acontecem, nada se pode fazer para as alterar. Elas está lá e são inalteráveis. Não há nada a fazer. O espaço que elas ocupam nunca vai ser desocupado. As consequências que elas provocam não desaparecem. E temos de viver com elas, sejam boas ou más, justas ou injustas. E daí, o que fazer? Seguir. De uma forma ou de outra, apenas seguir. Tristes ou felizes, o que temos a fazer é continuar com a nossa vida, a nossa maldita rotina. Tão maldita que é graças a ela que nos permitimos continuar a viver com essas cicatrizes. As cicatrizes das consequências....

Os objectos não mudam com o tempo. 
Os livros não mudam com o tempo. 
A música não muda com o tempo. 
E é engraçado como a vida e a nossa memória podem brincar connosco... Quando a saudade imensa que temos daquilo que fomos e daquilo que tivemos teima em aparecer, ouvimos aquela canção que faz parte dessa vida e é como se viajássemos no tempo. 

É como se voltássemos atrás. 
Como se regressássemos àquele tempo em que tudo era diferente. 
Àquele tempo onde podíamos sonhar e acreditar que esses sonhos se iriam concretizar.
Àquele tempo onde não nos sentíamos sozinhos.. 
Àquele tempo onde parecia que a liberdade ia finalmente chegar...

Se, por algum momento, quisermos regressar ao tempo antes da mudança, nem que seja apenas através da nossa memória, podemos fazê-lo. Pelo menos, durante o tempo em que a canção toca, apenas fecho os olhos e saboreio cada palavra e cada acorde. Por estes instantes as cicatrizes ainda não existem. Ainda não existem as consequências que as provocaram. 

E sorrio... 

Agora também uma lágrima escorre pelo meu rosto, mas esta não representa a dor. Representa, sim, a nostalgia de um tempo onde parecia que tudo podia ser diferente. 

Coldplay - Everthing's not Lost (primeiro álbum da banda - Parachutes, ano 2000)

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