Simplesmente Dispensáveis?

A ansiedade é tramada.
Ainda noutro dia falava disso com uma pessoa amiga. Talvez esse seja até um dos maiores problemas emocionais e psicológicos deste século. É a vida sempre a correr, o stress, a vontade em chegar sempre primeiro, a vontade de fazer tudo bem, a esperança de conseguir algo... O pior é que a ansiedade pode estar em qualquer aspecto da nossa vida, ou em qualquer situação.

Ligada à ansiedade, encontramos, então, a expectativa e a obsessão. Às vezes é essa obsessão que nos faz ser bons naquilo com que nos comprometemos. Esperamos atingir objectivos, obter uma recompensa ou simplesmente somos empenhados para nossa satisfação pessoal. 

É estranho quando com o nosso esforço não conseguimos nada disto. Nem recompensas, nem satisfação pessoal, nem reconhecimento, nem nada. 

Mesmo não tendo nada continuamos a sentir essa ansiedade. Essa ansiedade que nos tira o sono, mesmo que, conscientemente, pensemos que nada nos afecta. A mente humana é realmente uma surpresa. Por exemplo, não dormimos e pensamos no que é que nos poderá estar a afectar. À primeira vista, não encontramos nenhuma razão para que isso aconteça. Porém, por vezes, são pequenos pormenores, pequenos detalhes que ficam presos no nosso inconsciente que, por sua vez, cria em nós aquela ansiedade que fica escondida, à espreita da melhor oportunidade para se mostrar.

Depois passamos para a fase em que nos tentamos mentalizar de que o nosso problema não é o fim do mundo. Há sempre mais opções, outros planos ou oportunidades que podem aparecer. Mas aquela inquietude permanente que nos faz sentir pequenos ou revoltados com situações que não podemos mudar está sempre lá.

Pior quando a nossa vida se transforma num completo jogo de futebol azarado, daqueles em que a equipa joga e joga, luta, tenta, remata, é mais forte, apresenta mais qualidade, mais sistema de jogo, mais velocidade, tem os melhores jogadores, mas, mesmo assim, não consegue marcar o golo da vitória e acaba por ficar pelo caminho. Lutamos, planeamos, damos tudo de nós por um um objectivo mas, quem não nos quer, acaba mesmo por nos dar um pontapé no cu e põe-nos de lado. Pode ser de forma mais bruta ou de forma mais subtil. De qualquer das maneiras estamos fora da competição. E aí está a ansiedade. Como é que vai ser amanhã? Eu sei que podem existir outras provas, mas, mesmo assim, o que vai ser do amanhã sem os habituais costumes, as pessoas habituais ou a nossa casa habitual?

Por vezes, penso se não me deveria tornar igual a todos os outros: criar ou manter esquemas que permitam que eu não tenha de lutar tanto e, assim, ganhar e ficar tranquila com a certeza de que o meu estará sempre certo. Não seria melhor criar uma táctica onde a minha equipa não joga nada, mas, mesmo assim irá conseguir a vitória? Afinal, tanto na vida como no futebol o que interessa é "ganhar pontos"... Mas, será mesmo assim? Ganhar sem brilho, sem orgulho, sem significado, uma vitória vazia de valores, sem respeito, apenas com o olho inchado pela parcialidade e com o peito cheio de futilidades. 

Será a vida isso? Futilidades? Onde, definitivamente, aqueles que dão mais de si no que acreditam ficam sempre de lado porque a maioria os esmaga? Porque a maioria não os quer? A maioria não é esforçada nem tem um sonho. Porquê deixar alguns ter esse privilégio do sonho? Não. Não faz sentido que isso aconteça. Então corta-se. Por inércia, inveja ou interesse.

Seremos dispensáveis? Será a vida isso? A função da vida é descartar-nos do lugar ou daquilo pelo qual lutámos anos a fio? Será esse o entretém desta vida que nos consome?

Tantas perguntas (a ansiedade a falar!) e continuo sem saber a resposta.
Noutro dia perguntaram-me de quem é que eu gostava e eu disse simplesmente "daquelas pessoas que trabalham arduamente sem esperar nada em troca. Que apenas querem ajudar o outro a ser feliz". É sim. Realmente, é dessas pessoas de quem eu gosto mais, porque, normalmente, são essas que ninguém conhece, nem reconhece. Normalmente, são a essas pessoas que a maioria dá um chuto no cu, sem dó nem piedade, como se a ordem natural trabalhasse e pusesse de fora aqueles que não se dobram à sede de ganhar a qualquer custo e de qualquer maneira.

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