O Conforto do Conformismo

A sensação de que passámos ao lado de tudo aquilo que nos é natural é frustrante. 
É uma frustração connosco mesmos, mas também com os outros. Afinal de contas, nem tudo na vida acontece somente por culpa nossa. E é aí que está o martírio... A procura incessante daqueles ou daquilo que é a causa da nossa frustração. 
Porque somos assim? 
Porque estamos nesta situação?
Porque não podemos ser como os outros?  Ter vivido o mesmo que os outros?

A procura contínua das razões que explicam o nosso marasmo, a nossa incapacidade de seguir em frente e de estar em harmonia com a realidade à nossa volta, é desgastante. Mas se somos seres racionais e conscientes como é que poderíamos deixar de fazer esse exercício da procura das causas para determinado comportamento ou realidade?

De facto, tudo aquilo que nos acontece tem uma razão. Tem uma origem. Podemos passar ao lado dos factos que explicam aquilo que somos. Mas eles existem, não fossem eles factos. Existe sempre algo que explica o porquê de termos passado ao lado de tudo aquilo que nos é natural. Sempre, mesmo que passemos os anos sem querer pensar nisso, mas, a verdade, é que isso acaba sempre  por nos cair no colo.

Quando pensamos que tudo está bem, que é desta que as coisas vão acontecer da forma que desejamos, quando temos planos que achamos infalíveis, de uma uma forma ou de outra, a consciência daquilo que somos vai acabar por se apoderar de nós. E se temos essa consciência também temos noção das nossas limitações.

O ser humano é limitado. As "tangas" daqueles que vêm dizer que podemos fazer tudo desde que queiramos, na minha opinião, isso não passa disso mesmo... de uma "tanga". Somos limitados no ponto mais simples de todos: na vida. Por isso, é que morremos. Se fossêmos seres ilimitados não teríamos fim, seríamos eternos nesta vida física e, isso, sabemos todos, que não é assim. Somos limitados, uns mais do que outros e, na verdade, são essas mesmas limitações que fazem de nós a pessoa que somos. 

Além disso, são essas limitações que nos fazem passar ao lado de tudo aquilo que é natural ao ser humano. E, aí, só temos de lidar com isso. Há diferentes formas de o fazer: nunca aceitamos essas limitações e passamos a vida a cair e a sentir dor continuamente por nunca conseguirmos atingir aquilo que sonhamos... Ou aceitamos essa verdade, sentimos também uma dor contínua, mas estamos conformados. E, por vezes, estarmos conformados com a nossa verdade dá-nos um pouco de conforto... Um conforto que também só acontece depois de percebermos essas tais razões para os nossos limites na vida e que explicam porque é que passamos ao lado daquilo que deveria ser natural a todos. 

Comentários

  1. Ouvi há pouco que um mágico qualquer, com nome de personagem de romance inglês oitocentista, comprou uma ilha algures, porque, dizem, aí estaria a fonte da vida eterna... raisparta, nem os mágicos estão livres de procurar a ilimitação... ou conformação, como se queira...

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